sábado, 9 de janeiro de 2016

A DIFERENÇA DA POESIA

Na clínica do Encontro, a sintaxe poética pode ser utilizada como expressão do paciente e escuta/ intervenção do terapeuta. Isto porque a matéria do processo dito terapêutico é o desejo em todas as multiplicidades singulares. No entanto, linhas de destruição aprontam suas armas na cena da transferência. E não concebemos a transferência apenas no sentido freudiano, mas sim como um conceito ampliado para acessar estratos subjetivos que o mundo fincou no coração dos afetos: as instituições. Diante dessa ação anti-alegria, desse terrorismo afetivo, a tarefa essencial da clínica da Diferença passa a ser criar, inventar, fazer surgir, arriscar,mudar o jogo em prol de um contrajogo leve e dançante. Inglório o desafio, pois as forças conservadoras operam maciçamente com o fim de acusar, julgar e condenar a vida do jeito que elas fazem com uma criança. É preciso resgatar a poesia , mesmo sem sermos poetas e sem que o paciente o seja. Não importa. A poesia não precisa só de versos.O que ela expressa é o inexpresso, o não-dito, o sem-palavras, enfim, os desejos que surgem sem nome, os inomináveis. Talvez esteja próximo a esse movimento vital o que alguns mestres orientais chamam de caminho da libertação.

A.M.

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