Num território clínico encharcado pelo uso generalizado de psicofármacos, como fazer a diferença? O próprio paciente quer fármacos, pede isso, mais e mais,naturalizando a função de psiquiatra com a de “passador de remédios”. Mas não só o paciente. “Todos” pedem mais remédios químicos para, entre outros objetivos, manter a Ordem no serviço. Trata-se de um legado do antigo hospital que se mantém atuante como necessidade de haver um psiquiatra. São argumentos variados. Vejamos:1-clínicos: as psicoses são consideradas como as patologias mentais mais graves; por isso, só um psiquiatra estaria capacitado para tratá-las, pelos menos num primeiro instante; 2-morais: os transtornos mentais levam os seus portadores a condutas socialmente inadequadas, às vezes violentas; o psiquiatra deve ser chamado;3-jurídicos: o psiquiatra é médico e esse dado implica num poder jurídico estabelecido, o que o diferencia dos demais técnicos; 4-institucionais: a relação de poder psiquiatra-paciente fornece o modelo de atendimento que se reproduz como verdade da clínica. Ora, se pretendemos outro tipo de trabalho, a função-psiquiatra deve ser estilhaçada, fragmentada, e é desse modo que tentamos a inserção no caps.A escuta do paciente e o movimento dialógico até os demais técnicos são linhas técnicas que podem fazer surgir um trabalho singular. Ou nada.
A.M.
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