MEDICINA ERRÁTICA
Poucos momentos expõem tanto a fragilidade humana quanto sentar na frente do médico e aguardar, ansiosamente – mãos cruzadas sob a mesa, pernas irrequietas, pensamentos suspensos –, o veredicto derradeiro. Se o caso é simples, parece não haver razão para grandes preocupações. Diagnóstico dado, tratamento definido, assunto encerrado. Fica a sensação reconfortante de que reparar o corpo humano é algo objetivo como consertar um carro. Para cada situação, haveria uma conduta prevista no manual. Se o caso é um pouco mais complicado e oferece muita incerteza nos desdobramentos, apegamo-nos à crença na pretensa infalibilidade da medicina moderna. Afinal, os tratamentos nunca foram tão avançados. Nunca se pesquisou tanto. Nunca houve tantos dados sobre a eficácia das técnicas. Nunca se soube tanto sobre possíveis efeitos colaterais. Então, por que a medicina tantas vezes volta atrás e descobre, como que do nada, problemas sérios em tratamentos em que confiamos por tanto tempo?
O recente trabalho de dois médicos americanos, o clínico geral Adam Cifu e o oncologista Vinay Prasad, mostra que a crença mecanicista no funcionamento do corpo e a fé quase espiritual na medicina são grandes equívocos de expectativa dos pacientes. Eles sugerem que o conhecimento médico não progride de forma tão linear quanto gostaríamos. No dia a dia da prática médica, há uma dose incontornável e pouco mencionada de incerteza. Isso é natural em qualquer ciência biológica – organismos vivos, como nós, reagem o tempo todo, de maneira inesperada e pouco compreendida, a uma infinidade de fatores. Por isso, o canadense William Osler, considerado um dos grandes clínicos modernos, definiu a medicina como “uma ciência de incerteza e uma arte de probabilidade”. Médicos não são deuses, são humanos e, por mais preparados e dedicados que sejam, são necessariamente falíveis, como todos nós. Erram – e esses erros não raro custam vidas.
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Da Revista Época, Marcela Buscato com Ana Helena Rodrigues, 08/01/2016,22:37 hs
A última vez que adentrei num consultório de um médico “DEUS”, o veredicto foi: NÃO TEM CURA, viu! Use oralmente Combirom ou Neutrofer, 180 comprimidos. Tome 1 comprimido meia hora antes do almoço e jantar, com suco. Use também Ciclobenzaprina, 5mg, 90 comprimidos. Tome 1 comprimidos à noite, 20 hs.
ResponderExcluirDurante a consulta, não bastassem as dores que percorriam todo o meu corpo, fiquei apavorada. As mãos cruzadas e as pernas irrequietas deram lugar a pensamentos negativos que antecipavam uma invalidez. Inevitavelmente, uma sensação de impotência tomou conta de mim. Diagnóstico dado, tratamento supostamente definido, assunto NÃO encerrado... Teria que aprender a conviver com a dor e com as limitações de movimento que ela traria. O fato é que, até o momento dessa consulta, a minha fé na medicina era cega. Fui catequizada para não duvidar dos médicos. Mas, dessa vez, uma inquietude tomou conta do meu coração e eu resolvi que não iria acatar aquele veredicto, sem antes ouvir outras opiniões sobre o assunto. Foi a melhor decisão que tomei. Consultei um Médico “NÃO DEUS” e ganhei de presente novas córneas e agora consigo enxergar melhor esse universo dos “falsos” saberes médicos, e me proteger melhor de suas armadilhas.
Eu que me pertenço não conheço o meu corpo, quem dirá os MÉDICOS travestidos de deuses! Estes, imbuídos de suas crenças mecanicistas no funcionamento do corpo, jamais terão condição de me ajudar a desvendar o meu, e tratar as minhas enfermidades. São muito limitados, embora se achem doutos. Nos seus consultórios, basta que a gente relate alguns poucos sintomas, que faça alguns exames de laboratório, para que ele nos enquadre na CID 10. Imagino que eles saibam que o nosso corpo é um organismo vivo, revestido de subjetividades e, como tal, não deve ser tratado como um carro. O que lhes falta, mesmo, é a humildade.