DEVIR - FEITICEIRO
(...) A máquina de guerra é sempre exterior ao Estado, mesmo
quando o Estado se serve dela, e dela se apropria. O homem de guerra tem
todo um devir que implica multiplicidade, celeridade, ubiqüidade,
metamorfose e traição, potência de afecto. Os homens-lobos, os homens ursos,
os homens-feras, os homens de toda animalidade, confrarias secretas,
animam os campos de batalha. Mas também as matilhas animais, que servem
os homens na batalha, ou que a seguem e dela tiram proveito. E todos juntos
espalham o contágio. Há um conjunto complexo, devir-animal do homem,
matilhas de animais, elefantes e ratos, ventos e tempestades, bactérias que
semeiam o contágio. Um só e mesmo Furor. A guerra comportou seqüências
zoológicas, antes de se fazer bacteriológica. É aqui que os lobisomens
proliferam, e os vampiros, com a guerra, a fome e a epidemia. Qualquer
animal pode ser tomado nessas matilhas, e nos devires correspondentes;
vimos gatos nos campos de batalha, e até fazer parte dos exércitos. É por
isso que mais do que distinguir espécies de animais, é preciso distinguir
estados diferentes, segundo eles se integrem em instituições familiares ou em
aparelhos de Estado, em máquinas de guerra, etc. (e a máquina de escrita ou
a máquina musical, que relação têm elas com os devires-animais?).
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol 4
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