terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O QUE É DELIRAR - I

O "delírio" é um elemento importantíssimo da clínica psicopatológica. Por que? Porque ele diz respeito à questão da verdade, no caso, a verdade do paciente. A pergunta "isso é verdade?" se insinua, mesmo que por meios enviesados, estranhos, imperceptíveis. De acordo com o modelo organicista da psiquiatria tradicional (ressuscitado, hoje, sob o nome de psiquiatria biológica), o delírio é um sintoma, assim como a cefaléia, a tontura, a náusea, etc. Ora, na prática clínica, tal enfoque não só é insuficiente, como muitas vezes torna-se nocivo ao paciente ( via intoxicação com fármacos, efeitos adversos e colaterais), já que o objetivo a obter é apenas a remissão ou melhora do sintoma, nada mais do que o sintoma. No entanto, desde a invenção da psicanálise (faz tempo...) é sabido que o sintoma psíquico remete a outra coisa (daí a sua utilização como material na psicoterapia), ou por outra, ele pode até mesmo ser "necessário", pois ajuda a viver. Pensar dessa forma, dispensando o senso comum da razão médica, implica em trabalhar a subjetividade como modo de produção de um processo existencial, e não como coisa, mesmo a mais valiosa. 

A.M.

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