O QUE É DELIRAR - IV
Delirar é falar. Toda fala é delirante, não num sentido biomédico, mas como expressão da verdade, pelo menos por quem fala. Esta produção "industrial" de verdade gera efeitos concretos em quem escuta. A subjetividade vem de fora. O mundo exterior é o interior. Tudo se mistura. Em tempos modernos, a fala não mais representa o mundo, mas faz o mundo. A experiência delirante, insubmissa à razão psiquiátrica, espalha-se pelos quatro cantos do tecido social ( materializada em relações de poder) produzindo verdades parciais e fragmentárias. Ora, é evidente que muitos discursos (em especial, o religioso) buscam totalizar a realidade em nome de uma verdade única, última e eterna. Isso pacifica corações angustiados, almas desgarradas, existências malogradas em busca de um sentido dado a priori. Por isso é necessário repetir: não há sentido, nada faz sentido, o sentido está a se fazer, produzir, criar, construir. Do contrário, o destino é o buraco negro das subjetividades-zumbis: consumos capitalísticos. Delirar é, pois, falar contra, ir contra, ser do contra, contra-a-corrente, dizer-fazer em seu próprio nome. Outra política, um desvario, quem suporta novas verdades?
A.M.
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