VIDAS SECAS
Em 1952, quando dona Lindu reuniu os filhos e deixou o sítio Vargem Comprida, em Garanhuns --hoje município de Caetés (a 259 km do Recife)-- com destino a São Paulo, a seca castigava e expulsava os moradores sem perspectiva. Passados 64 anos, o sítio onde nasceu o ex-presidente Lula sofre com a que é avaliada por agricultores como uma das piores secas da história.
A estiagem começou ainda no ano de 2011 e chegou ao auge neste ano, quando a falta de chuva resultou na seca completa dos reservatórios do local. Sem água, a terra seca e branca da região mais lembra um deserto, onde apenas vegetações pálidas sobrevivem, ao lado dos poucos jumentos que resistem à estiagem.
Nos últimos anos, muitos deixaram a agricultura por conta da terra improdutiva. A pecuária se tornou atividade sem futuro pela falta de água e alimento para os animais. A solução, então, foi tentar a vida em outros locais.
Foi o que fez José Carlos Vieira, 28. Ele era agricultor e, após perder toda a plantação com a severa seca de 2012, decidiu seguir os passos de dona Lindu e tentar a vida em São Paulo.
Com quatro amigos, conseguiu um emprego em uma serralheria, arrumou as malas e pegou um ônibus clandestino para a capital paulista. Passou um ano e um mês na cidade, mas a serralheria entrou em crise, fechou e ele decidiu voltar.
"Dos cinco amigos que foram, quatro voltaram, porque perderam os empregos por causa da crise lá. Em São Paulo, também não está fácil, melhor ficar por aqui", conta o ex-agricultor, que, quando viajou, deixou mulher e filhos em Caetés.
(...)
Carlos Madeiro, UOL, 17/12/2016, 05:00 hs
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