domingo, 25 de dezembro de 2016

O QUE É DELIRAR - III

A experiência delirante escapa do molde psiquiátrico.Ela se expressa no cotidiano do nosso tempo. Basta atentar, por exemplo, para as semióticas religiosas. Funcionando, na sua maioria, sobre valores transcendentes (para além da vida) tais modos de subjetivação (movidos pelo desejo do absoluto) estabelecem um sentido para a falta de sentido da existência. Garantidas as condições institucionais, é possível delirar à vontade, desde que se obedeça às formas sociais (estado, escola, polícia, machismo, entre outras) componentes do capitalismo mundial integrado. Ou seja, tais formas de relação social ( naturalizadas: pode-se imaginar uma sociedade sem estado? ) acabam por estancar os fluxos do delírio, evitando o desembarque do cidadão num caso psiquiátrico. É que para a psiquiatria biológica interessa manter e produzir alguns (essenciais) signos de conduta: Ela diz: 1- seja responsável; 2- seja adequado; 3- obedeça. A religião também. Assim, o controle do delírio finca uma união estável entre a psiquiatria e a religião num tipo de ladainha subjetiva contínua; de um lado os psicofármacos, do outro a fé.

A.M.

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