sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O QUE É DELIRAR - II

O "delírio" é um sintoma que deve ser eliminado. Esta é, pelo menos, a palavra-de-ordem que funciona como motor da psiquiatria biológica. Atrelada ao modelo biomédico, não se poderia esperar dela nada diferente. Ocorre que o delírio é um fenômeno que extrapola os biolimites da medicina. Ele é sócio-político, cultural, racial, geográfico, institucional, tudo porque a questão da verdade atravessa a experiência delirante. É a sua materialidade existencial mais espessa. A pergunta passa a ser: em que (ou em quem) acreditar? Ela está presente desde a vida esplendorosa dos pequeninos, tantas vezes massacrados, ainda que por "bons" pais. Está também presente (mais que nunca) no mundo industrial da modernidade.Somos colonizados por informações, comunicações plugadas em mentes consumidoras de ordens.Falar em "delírio" é, pois, falar sobre a "verdade" de quem enuncia algo (diz) ou faz (acontece). Todos deliram. Os terroristas estão em toda parte, não só os do oriente... Em que crêem? Em Maomé? Ou no Deus-capital?  A era do grande hospício se aproxima.

A.M.

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