domingo, 18 de dezembro de 2016

UMA ÉTICA DA REVOLTA

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Toda filosofia que seja uma filosofia para a vida não pode tolerar a morte de outros para alcançar o que quer que seja. Recusar a morte implica, concomitantemente, recusar tudo que faça morrer. “Assassinato e suicídio são a mesma coisa, ou se aceitam ambos ou se rejeitam ambos” (Albert Camus, Homem Revoltado). Quando matamos alguém, mato a ideia que fazia dele, mas também o ser humano real que havia por trás. Se a filosofia rejeita o suicídio e a morte, então o filósofo não deve colocar-se nem como vítima nem como carrasco. Não há inimigos, seu lugar é ao lado dos homens.

Portanto, não poderia haver perigo maior para a revolta que o fanatismo. Por fanatismo podemos entender desde o nazismo até o marxismo, passando por interpretações religiosas extremas. Não há filosofia que justifique a morte e a opressão sem cair no mais profundo niilismo. É necessário manter-se fiel à Terra para afastar de si todo niilismo. Isto evita que a filosofia torne-se arma dos fanáticos que matam justificando uma transcendência injustificável. Não podemos jamais confundir este conceito tão caro a Camus com alguma forma de religião ou busca por transcendência. Revoltar-se significa ir contra aquilo que nega o mundo, isto é uma das mais potentes formas de afirmação: negar aquele que nega o homem, é a mais pura forma de afirmação da vida.
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Rafael Trindade, do blog "Razão inadequada", 14/12/2013

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