quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

DO QUE SE TRATA?

A questão do farmacologismo em psiquiatria não se resume a passar remédios químicos em excesso. Isto é demasiado evidente. Psiquiatras "remedeiros" se multiplicam... Queremos dizer outra coisa, levantar questões, não necessariamente nesta ordem de importância: em primeiro lugar, o psicofarmacologismo se impõe graças ao efeito do aniquilamento das pesquisas em psicopatologia clínica. Um diagnóstico complexo é substituído por um diagnóstico equivocado ou até pelo não-diagnóstico. Em segundo, ao mecanicismo científico instituído como verdade epistemológica (relação linear causa-efeito, o cérebro reificado) e a parceria acadêmica da psiquiatria com as neurociências. Em terceiro, pelo efeito (rápido) de controle químico sobre as condutas ditas anormais. O problema fica aparentemente solucionado... Em quarto, devido aos interesses poderosos das multinacionais farmacêuticas. A propaganda adentra a relação médico-paciente como um elemento constitutivo da mesma. Em quinto, pela ausência de uma teoria psiquiátrica da subjetividade, e no seu lugar a fabricação de mentes-em-série. O escravo moderno. Em sexto, pelos grandes buracos semiológicos (o que é um transtorno mental?) pregados na grade nosológica psiquiátrica. Daí, o psiquiatra que não sabe o que se passa nem do que se trata. Nem quer saber. Em sétimo, pela medicalização vertiginosa e generalizada dos problemas sociais, manobra "esperta" dos poderes vigentes. Em oitavo, pelo funcionamento institucional contemporâneo de buscar tamponar quimicamente a tragédia humana (nada de angústia...) e, por extensão, sua alegria oculta. Estes oito tópicos não esgotam a análise do problema, mas são eixos para se pensar.


A.M.


Obs.: texto ampliado e republicado.

Um comentário:

  1. Aaaah!,

    penso!, que sem chances de extinguir as vítimas, em consequência, duma falta “sempre desejada”, de pensar o pensar...

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