EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS - 2 (*)
A emergência psiquiátrica é uma situação clínica que legitima o modelo biomédico num momento agudo. Isso é uma obviedade. No entanto, tal como nas situações psicossociais em que esse modelo fracassa, a emergência psiquiátrica tende a ser mal diagnosticada, mal atendida e mal encaminhada. Vamos por partes. O que está em jogo é o comportamento do paciente, na medida em que ele incomode ao que está em torno (familiares, amigos, vizinhos, colegas, instituições, etc). Assim, o diagnóstico psiquiátrico (apressado) faz por homogeneizar tudo: histerias, psicoses, intoxicações por drogas, tentativas de suicídio, demências, pânicos, fobias, tantos e variados diagnósticos que não mudam o objetivo essencial da intervenção médica: o controle. O paciente psiquiátrico mete medo porque desarruma os códigos sociais vigentes e interpela a medicina. Por exemplo, em geral os médicos, mesmo psiquiatras, detestam a histeria, ou as e os histéricos, usando o epíteto depreciativo de "piti". Isso é antigo. A histeria desconcerta o olhar pretensamente científico da medicina. No entanto, desde finais do século XIX um médico atípico de Viena já tematizava a histeria. Hoje, as práticas médicas não mudaram á respeito. Sendo assim, numa emergência psiquiátrica é essencial estabelecer uma hipótese diagnóstica segundo um olhar psiquiátrico, mas também segundo um olhar psicossocial para ser possível separar o que é do que não é da psiquiatria. O atendimento e o encaminhamento (sinônimos) do paciente dependem disso, o que discutiremos no próximo texto sobre o assunto.
A.M.
(*) Dedicado ao Hospital Afrânio Crescêncio/ Vitória da Conquista/Ba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário