quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O MURO

Não possuía mais a pintura de outros tempos. 
Era um muro ancião e tinha alma de gente. 
Muito alto e firme, de uma mudez sombria.

Certas flores do chão subiam de suas bases 
Procurando deitar raízes no seu corpo entregue ao tempo. 
Nunca pude saber o que se escondia por detrás dele. 
Dos meus amigos de infância, um dizia ter violado tal 
segredo, 
E nos contava de um enorme pomar misterioso.

Mas eu, eu sempre acreditei que o terreno que ficava atrás 
do muro era um terreno abandonado!


Manoel de Barros

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