sábado, 13 de janeiro de 2018

CORPOS DE CORPOS
                                                    
O corpo-sem-órgãos (CsO) é um anticonceito, limite intransponível da experiência. Roubamo-lo de Deleuze-Guattari. Processo esquizofrênico, ele não é a entidade clínica "esquizofrenia". Neste caso, é prática de vida que aparentemente fracassou. Ainda assim continua ativo enquanto coleção de linhas existenciais sem forma, sem contorno, fluxos nômades, gritos. São as máquinas do desejo. A subjetivação dá-se, pois, como dessubjetivação incessante. Somos todos esquizos. Considere o seu próprio corpo. Ele é invenção de mundos. Não o corpo do qual a medicina,  papai-mamãe  e  a escola  gostam. É outra coisa, uma política.Aparece aqui e ali em situações de grande responsabilidade moral – para  desfazer a moral. Se você perguntar qual  o meu corpo, eu  lhe  direi: sigo os afetos: uns me encantam, outros são insuportáveis. Risco dos encontros, puro desejo escorrendo cruel, "o que não tem governo nem nunca terá." Veja o paciente. Seu corpo liga-se ao mundo dos códigos estáveis. Eles são usados  para a repetição do Mesmo e para o o controle das mentes. A antiprodução é, assim, enxertada na produção. Convite ao normal. Mas, o que  aconteceria se milhões de corpos sem órgãos fossem movidos ao combustível alegria? O corpo seria o de um soldado lutando na  trincheira? Ou o de uma dançarina dançando na relva? Ora, os corpos são invisíveis.Sua potência esgueira-se por entre as franjas da racionalidade proprietária do eu. Não há corpos opacos. Somos fibras de luz e só os videntes enxergam para além de toda moral, de toda técnica e de todo o poder. O CsO é uma política de almas errantes. Não se deixam ver. Usam máscaras rentes à pele. Você nem sabe que é... Por isso não anuncie a sua chegada, não reclame, não ressinta. Cultive o segredo. Faça rizomas. 


A.M.


Obs,: texto modificado e republicado

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