Agonia bolsonara
Apoiadores de Bolsonaro querem uma vida melhor. Eu e você também. A bolsolatria é sintoma de agudo desespero político, sentimento digno de respeito. Importa menos, a bolsólatras, que seu líder seja um monstro moral que celebra massacre prisional e execução sumária; que defenda violência contra filho homossexual e salário menor para mulher porque engravida; ou que chame índios e negros de preguiçosos que atrapalham o desenvolvimento. Importa, sim, que ele entregue segurança e emprego. Sobrevivência, enfim.
Bolsonaro promete saídas simples e “sem viés ideológico” para nossa encruzilhada. As teses do bolsonarismo vêm sendo destiladas há anos. De um lado, há teses exuberantes sobre como agredir “o outro”: a mulher, o negro, o pobre, o índio, a família transviada. São conhecidas e agradam a certo público. Numa democracia liberal, divergimos sobre o que é justiça, mas concordamos minimamente sobre o que justiça não é. A supressão de direitos civis de grupos vulneráveis está fora da divergência tolerável e constitucional.
De outro lado, há teses que afetam o bem-estar de seu próprio eleitor, que deveria prestar atenção para não se descobrir traído depois. Esbanjam senso comum e desprezo pelo conhecimento.
Quão racional pode ser a aposta num mercador de balas de prata?
Declarações recentes sintetizam algumas de suas teses. São gaguejadas, ocas e não podem cumprir o que prometem:
Tese 1 – Economia: “Não sou economista. O Paulo Guedes decide”.
Tese 2 – Emprego: “Se o governo não atrapalhar o empreendedor e o trabalhador, acho que temos como melhorar essa questão do desemprego no Brasil”.
Tese 3 – Igualdade salarial entre homens e mulheres: “Se interferir, vai quebrar de vez. Você vai chegar lá e falar que é a mesma coisa? É uma coisa que não vai chegar a lugar nenhum”.
Tese 4 – Saúde: “Não sou médico. Quem for para o Ministério da Saúde tem de cuidar da saúde, e não da doença prioritariamente”. Ou: “Mortalidade infantil tem muito a ver com os prematuros, com o passado sanitário e alimentação da mãe”.
Tese 5 – Educação: “O que temos de fazer é inverter a pirâmide educacional, investir mais na educação básica”.
Tese 6 – Segurança pública: “A questão da inteligência, a coisa não é tão fácil. Os caras não têm inteligência, metem fogo e que se exploda o mundo. Se o Congresso me der uma excludente de ilicitude, o próprio policial militar dá conta”.
Tese 7 – Segurança individual: “Os caras estão matando independente de reagir. Eu quero ter 5% de chance de reagir”. Ou: “Você prefere a lei do feminicídio no bolso ou a pistola na bolsa?”.
Tese 8 – Corrupção: “Falta zelo com a coisa pública, pegar de frente a questão da corrupção”.
Tese 9 – Direitos fundamentais: “A minoria tem de se calar e se curvar à maioria”.
Tese 10 – Arte de governar: “Falta a governos a capacidade de se antecipar a problemas”.
As frases não foram pinçadas fora de contexto. Apesar da insistência de jornalistas, Bolsonaro não consegue elaborar mais. Depois de três décadas na política, seu repertório continua ginasial. Admite terceirizar o governo à equipe “posto Ipiranga”, cujo desempenho tampouco saberá julgar. Nem mesmo Donald Trump se permitiu tal confissão e nunca reconheceu que seu cérebro era pilotado por Steve Bannon. Bolsonaro se rendeu aos encantos de Paulo Guedes e garante que esse casamento (heterossexual) vai durar.
Os debates eleitorais, quanto mais oscilam entre o grito pela utopia bolsonara e o temor da distopia bolsonara, mais se distanciam dos problemas concretos do país. Ainda outro dia, discursos de campanha pediam para a esperança vencer o medo; agora fomos lembrados que, na política, a raiva pode vencer a razão.
Não há pensamento político, jurídico ou econômico, nem ciência empírica respeitável, que acomode o bolsonarismo. Bolsonaro recicla o que o Brasil e o mundo produziram de pior no século XX. Sua tese sobre memória histórica não poderia ser outra: “Esquece isso aí, é daqui pra frente!”. A agonia antipolítica corrói a democracia, e não faltam causas para esse estado de espírito. Bolsonaro não vem para enfrentá-lo, apenas para encarná-lo com mais virulência e desatino. Seguimos sem saber como resgatar o potencial transformador da política.
Conrado Hubner Mendes, Época, acessado em 11/08/2018
Chama-se " Voto Desesperado".É quando ja se viu de tudo que é ruim. E aí desesperadamente radicalizamos.13 anos que a esquerda não resolveu.Querem desconstruir a sociedade toda!Bolsonaro é um malcriado mas não morde ninguem. Voto nele.
ResponderExcluirChama-se " Voto Desesperado".É quando ja se viu de tudo que é ruim. E aí desesperadamente radicalizamos.13 anos que a esquerda não resolveu.Querem desconstruir a sociedade toda!Bolsonaro é um malcriado mas não morde ninguem. Voto nele.
ResponderExcluir"um malcriado" ... rs
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