O HORROR NATURALIZADO
Luiz Carlos Mendonça, de 24 anos, saía de sua casa no bairro Mutirão, em Ribeirópolis, interior do Sergipe, por volta das 20h. Mal terminou de fechar o portão quando uma moto se aproximou e o garupa abriu fogo com uma pistola 380. Mendonça morreu no local. O crime, ocorrido em 2017 na outrora pacata cidade do agreste central do Estado com pouco mais de 17.000 habitantes, não chocou a população. Aquele era o terceiro homicídio ocorrido apenas naquela noite. Em 2013 Ribeirópolis teve apenas 5 homicídios. Em 2014 foram 29, um aumento de 480%. O caso é um retrato da interiorização da violência no país e do aumento dos assassinatos em municípios no Nordeste (e no Norte), regiões que se tornaram a nova linha de frente do embate entre facções criminosas. Pequenas cidades antes pacíficas se veem imersas em conflitos armados, a grande maioria deles relacionado à disputa pelo controle do tráfico de drogas.
O panorama faz o município sergipano estar muito longe de ser exceção. Quando o assunto é segurança pública, o Brasil enxuga gelo há décadas. Fortunas saem dos cofres públicos ano após ano para tentar controlar a epidemia de homicídios que assola o país, além de tentar frear o avanço das facções criminosas. Dinheiro e vidas que parecem descer pelo ralo, na medida em que os números apontam para uma batalha que, até o momento, está sendo perdida: em 2005 foram gastos pouco mais de 27 bilhões de reais com segurança pública nas esferas federal, estadual e municipal. Doze anos depois, este valor mais do que dobrou, considerando-se a inflação do período, para 84,7 bilhões de reais, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança. Os homicídios, no entanto, bateram recorde no ano passado, com 63.880 vítimas fatais, ante 40.795 em 2005. A taxa média nacional, que era de 22,5 por 100.000 habitantes naquele ano, agora já está em 30,2.
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Gil Alessi, El País, São Paulo, 30/08/2018, 13:06 hs
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