quarta-feira, 15 de agosto de 2018

SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA

O psiquiatra se despersonaliza.Torna-se algo que se torna outra coisa. Vive nos e dos paradoxos da linguagem que o empurram a encontrar o paciente, o mundo, a realidade, o cosmos. Não compreende o que se passa. Perplexo, interroga e interroga-se. Dança e entoa em silêncio cânticos extraídos do fundo de vielas existenciais. Não busca uma ontologia da psicose e/ou dos transtornos mentais. Talvez consiga ser um aprendiz da modernidade técnica, criando linhas de pura alegria (ainda e principalmente) nas quedas e surtos dos pacientes e de si mesmo. O método da diferença traz essa possibilidade para o "interior" da clínica. Os fármacos podem (claro que sim!) ser parceiros numa empreitada sem signos prévios. Ao paciente: use e controle essa droga lícita, sabendo que ela pode se tornar ilícita se atentar contra a criatividade do seu viver.  Não só a química, mas todo e qualquer objeto  pode  induzir a uma dependência abjeta. O psiquiatra da diferença não é esse objeto. O psiquiatra remedeiro, sim. Este se alimenta de subjetividades neuronais, pétreas, esvaziadas, ocas, trastes apelidados de pacientes.É preciso, pois, um combate incessante contra a máquina farmacológica.O fármaco é apenas um elemento prático-terapêutico. Para além da química, um devir-feiticeiro em psicopatologia clínica conta com aliados: a sensibilidade, a intuição, a percepção fina do invisível, a atitude expectante, o olhar de lince, a escuta do silêncio, a espreita da novidade, todo um conjunto de dispositivos nômades...
(...)

A.M. in Trair a psiquiatria

Nenhum comentário:

Postar um comentário