OS DELÍRIOS, AINDA
O tema "delírio" atravessa a história da psiquiatria, e, por extensão, da psicopatologia clínica. É que os modos de subjetivação (pacientes) operam segundo dois elementos básicos: crença e afeto. Há sempre algo em que se acreditar e há sempre algo que se sente. Isso conduz ao fato de que compreender (ou aceitar) um delírio só é possível se se considera a produção delirante para além do enfoque biomédico, o qual, por uma questão de método, trata o delírio como sintoma. E se é sintoma, deve ser suprimido. Ora, os modos de subjetivação são um efeito de discursos múltiplos e experiências inomináveis. Não são sintomas mas realidades "reais" em si mesmas. Desse modo problematizam o conceito de anormalidade mental. O que é o normal? Há narrativas insólitas muitas delas úteis ao paciente como território de sentido. As crenças (religiosas, culturais, místicas, políticas, filosóficas, antropológicas, metafísicas etc) e os afetos correlatos compõem semióticas irredutíveis à concepção psiquiátrica atual. Esta, colonizada pelo positivismo neurológico, deixa escapar a riqueza e complexidade de um delírio, ou pior, considera doente quem não é.
A.M.
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