O inconsciente em Deleuze e Guattari não tem representação. O corpo preso dentro das representações é como um prisioneiro condenado à solitária, um escravo amarrado vendo imagens na caverna. Onde posso fazer conexões novas se tudo que encontro, no fim das contas, são meu pai e minha mãe? O bebê não está em conexão com sua mãe, ele está em conexão com o mundo, simbiose mundial. A família é o grande território, mas certamente não é o único. Se há uma negação do inconsciente como um teatro é porque o desejo estabelece relações, e estabelecendo relações cria suas próprias sínteses. Há muitos caminhos para o inconsciente, é preciso sair da via expressa edipiana e encontrar as trilhas que ainda estão escondidas.
Falar de inconsciente é analisar o modo pelo qual as máquinas desejantes realizam suas sínteses, os encontros que elas operam. Tais sínteses são inconscientes e involuntárias, elas existem aquém do sujeito, são máquinas desejantes, pré-individuais, a-subjetivas. Se o inconsciente não é antropomórfico, a análise das sínteses nos ajuda a explicar como a subjetividade é produzida ao final dos processos inconscientes das máquinas desejantes. Mas não podemos nos enganar, produção desejante e social são tudo farinha do mesmo saco (terceira tese da esquizoanálise). Os fluxos sociais atravessam os fluxos desejantes, molar e molecular se confundem. Se o desejo produz, então ele só pode produzir no real. O exterior do inconsciente não é um mundo à parte, o desejo não está enclausurado, não há falta, há multiplicidade. O modelo esquizofrênico opõe-se ao modelo neurótico.
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Rafael Trindade, do site Razão Inadequada
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