LINHAS PARA O MÉTODO DA DIFERENÇA EM PSIQUIATRIA CLÍNICA
É possível estabelecer algumas linhas (práticoteóricas) para o método da diferença em psiquiatria clínica. São elas. 1-Contextualizar o encontro com o paciente: onde? como? quando? com quem? por que? para que? 2- Considerar os afetos em jogo, incluindo os do paciente e do técnico. Não como algo mal-em-si ou bom-em-si, mas como uma positividade, o que move as condutas. Trata-se do desejo. 3- Estabelecer hipóteses diagnósticas conforme a chave semiológica "função versus essência". Fazer prevalecer a função terapêutica. 4- Adotar uma atitude expectante (ao modo fenomenológico) expandindo-a como percepção do imperceptível: a espreita. 5-Percutir os sintomas a partir da vivência que o paciente traz do sintoma. Ou seja, retirar o sintoma da grade biomédica (uma doença) e tratá-lo como modo de existência: "eu sou meu delírio".6-Tentar, na medida do possível, inverter com o paciente para além da empatia. Não sentir o que o outro sente (isso é impossível) mas sentir com o outro. Trata-se de um cuidado, mesmo nas situações mais adversas e estranhas. 7- Evitar a auto-identificação em papéis sociais contrários à expressão da diferença, e que estão juntos ao de psiquiatra biológico. Não ser, pois, juiz, policial ou sacerdote, entre outros agentes da Ordem. 8-Conectando com o ítem 1, avaliar que forças institucionais fazem o paciente falar uma verdade que não é a dele. Criar condições para ele falar em seu próprio nome. 9- Usar o poder psiquiátrico como um contrapoder a favor da expressão do corpo singular. Um exemplo é o do paciente impregnado devido a prescrição equivocada de psicofármacos. A correção deve ser acompanhada de uma orientação técnica ao próprio paciente ou a familiares. 10-Entender que a subjetividade precede os sintomas ou os diagnósticos à la CID - 10. Ou seja, ninguém é bipolar (uma essência) mas produzido bipolar. Que tudo é produção, inclusive de doença, de medo, de sofrimento.
A.M.
Obs.: texto revisado e republicado a pedido.
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