O QUE QUEREM OS MILITARES?
Fez bem a cúpula do Exército ao prender em flagrante, sem esperar, 10 dos 12 militares que na tarde do domingo alvejaram com 80 disparos de fuzil um carro onde viajava uma família inteira, com uma criança de 7 anos e uma menina de 12. O tiroteio acabou com a vida do músico Evaldo Rosa dos Santos e podia ter culminado no massacre de uma família inteira, em Guadalupe, área pobre da Zona Norte do Rio. O pequeno, filho do assassinado, continua gritando desconsolando: “O que fizeram com meu pai!”.
O Exército vive no Brasil um momento delicado e de algum modo decisivo. Com a chegada do ultradireitista capitão reformado Jair Bolsonaro à Presidência da República, entrou com força no novo Governo, com um terço dos ministros e um total de 103 militares em cargos importantes da administração. É algo inédito desde os tempos da ditadura.
Há quem já o descreva como um “governo militar” que chega ao poder pelos canais da democracia, o que não impede que, se esse governo fracassar, arrastará consigo a credibilidade do Exército. Algo que já começa a aparecer como possível, dada a queda vertical de popularidade de Bolsonaro em apenas 100 dias de governo. Nenhum outro presidente da democracia tinha visto seu prestígio desabar tão radicalmente em tão pouco tempo. Brincadeira ou não, não há dúvida de que os militares enxertados no Governo não gostaram da afirmação de Bolsonaro aos jornalistas: “Não nasci para ser presidente”. Mais ainda, contou que “nunca podia imaginar chegar a tanto”. Com essa baixa autoestima, que encerra o medo de não estar à altura do cargo, não é estranho que os militares, de quem se diz que passaram a “tutelar” o presidente, se sintam a cada dia mais preocupados.
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Juan Arias, El País,08/04/2019, 18:49 hs
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