O MÉTODO DA DIFERENÇA EM PSIQUIATRIA CLÍNICA
Um exame do humor pode explicitar o roteiro da diferença. Os afetos precedem o humor. Este é um tipo de afeto resultante de forças múltiplas : bioquímicas, psíquicas, econômicas, familiares, sociais, espirituais, coletivas, etc. Isso é o que chamamos Contexto.O pesquisador (obtuso) da mente costuma priorizar a primeira força em nome do ideal asséptico da ciência positivista. Tudo é cérebro como origem e fim. Trata-se de um reducionismo fabricado em nome da razão médica. Ao inverso, buscamos detectar afetos sutis que se expressam (grosseiramente) como depressão visível. Eles se dão como rebaixamento da vitalidade. Isso pode ser a depressão como “doença” ou tão apenas uma síndrome ou uma reação depressiva às circunstâncias sócio-metafísicas (o mundo). De todo modo, o encontro com os afetos busca captar a intensidade dos mesmos a partir das condições subjetivas do paciente. Qualquer um pode deprimir à medida em que vivencia a cultura da culpa inscrita na carne. Somos todos cristãos e deprimidos. O paciente traz a forma do humor como um dado que muitas vezes lhe foi inculcado: “sou bipolar, sou a depressão": uma identidade. Trata-se de um processo de subjetivação psiquiátrica que se impõe como verdade diagnóstica. Devires são cortados. O humor hipotímico “evolui”para um grau de vitalidade compatível com a doença psiquiátrica: ausência da vontade de viver. Como recusar o grito desesperado do paciente? Há mil depressões, talvez não tão graves, mas necessitadas de atenção e acolhimento. No ato do Encontro é possível diferenciá-las em função da demanda por ajuda. O humor não é como a “glicose”, portanto a sua medição não é análoga à “glicemia”. Não existe a "humoremia".O humor é o desejo traduzido num Contexto. Resta saber qual.
(...)
A.M.
P.S. - texto revisado e republicado à pedido.
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