sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ALINE CALIXTO


A DEPRESSÃO PRODUZIDA

“ A depressão se encontra  hoje em dia  generalizada e quanto mais sobre ela se fala, se escreve e  se pesquisa, tanto mais ela é encontrada nos mais  insuspeitos recônditos de nossa  civilização. O significante é  realmente  criacionista e  o significante depressão  parece ter engendrado o batalhão de sujeitos que  assim qualificam seu estado d ´alma quando  se encontram tristes, desanimados, frustrados,enlutados, anoréxicos, apáticos, desiludidos, entediados, impotentes,angustiados etc.Antes nós não os percebíamos? Onde  se escondiam?”

Quinet, A., Atualidade da depressão e a  dor de existir in Extravios do desejo – depressão e melancolia, A. Q. (org), Rio, Marca  d´Água, 1999, p.87.

LAURA SOUSA

Sunset


ver 
é dor 
ouvir 
é dor 
ter 
é dor 
perder 
é dor 

só doer 
não é dor 
delícia 
de experimentador 

Paulo Leminski


UM PERSONAGEM CONCEITUAL : A CRIANÇA

Na clínica trabalhamos com vários personagens conceituais. Eles estimulam o pensar como ato de criar. Fazem o Acontecimento emergir, ainda que sob condições por vezes adversas.Comecemos pela criança. Separamos 10 características e como elas se expressam nos modos de subjetivação. 1-o frescor sensorial: tudo é novo; 2-a ausência de clichês perceptivos ou, no mínimo, funcionando em linhas flexíveis; 3- o primado da alegria; 4-o não ressentimento; 5-o sentimento de admiração para com o universo: oh! ah!; 6- a atividade motora incessante; 7- viagens insólitas na superfície das coisas; 8-a produção desejante: conexões para todos os lados; 9-o movimento lúdico do corpo: intensidades múltiplas; 10-o uso leve e delicado da linguagem, mormente quando balbucia.

A.M.

SALVADOR SEM DOR



DIALÉTICA

É claro que a vida é boa 
E a alegria, a única indizível emoção 
É claro que te acho linda 
Em ti bendigo o amor das coisas simples 
É claro que te amo 
E tenho tudo para ser feliz 
Mas acontece que eu sou triste...

Vinícius de Moraes


ESTAMOS TODOS DEPRIMIDOS

As  depressões são um tema muito  importante nos  tempos atuais. A  CID-10  inclui a  maior  parte delas no item “transtornos do humor”. Isso nos parece reducionista em função  do  destaque conferido ao humor. “O que é chamado de afeto ou humor, na Psiquiatria, é muito mal definido para constituir a base de uma categoria  diagnóstica”. Ele é posto como função psíquica passível de mensuração, ou pelo menos destacável  em termos objetivos. Ora, as depressões são bem mais do que “transtornos do humor”, tanto referidas ao quadro clínico quanto à origem (etiologia). A não consideração da vivência do paciente é uma das raízes do problema. Mas não só. Há que  registrar, entre outros fatores, o interesse da indústria farmacêutica nos quadros nosológicos tidos como de“alteração do humor”, já que estes devem ser normalizados com remédios. O problema se coloca na  própria avaliação  psicopatológica. Começa, então,  pela clínica.
(...)
A.M.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012



Os sábios mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância,
e eram os luminares do seu tempo.
O que fizeram? Balbuciaram algumas frases confusas,
e depois adormeceram, cansados.

O. Kayyam

AINDA SE FAZ LOBOTOMIA?



O NON-SENSE E A CLÍNICA

A alegria subverte a  clínica. E não é maníaca, tampouco faz o  par alternante com a  depressão. A alegria é o combustível da produção desejante de territórios  existenciais. Ela se  espraia para além de  duas pessoas  que  se olham sob uma linha  de verticalidade  hierárquica. Nada a ver com a alegria fluoxetínica pois ela, além de  padecer da falta nos circuitos  explorados, não se reduz à adequação do paciente ao meio social. A equação “bom comportamento=alegria” será  substituída pela “potência=produção de mundos”. O humor é a leveza que permeia  os corpos. Tudo a ver com o modo psicótico de viver sem a crosta psiquiátrica. Não existe o “psicótico puro”. Esta experiência, ao contrário, é marcada por mil fluxos que chegam de fora, que  são  o Fora. Mistura e dissolução dos  códigos,  poucos o suportam, vivendo que estão sob a égide da  Técnica. Desviar o humor para o non sense é um sentido. A psiquiatria biológica não compreende. A alegria chega sem explicações.  Insistimos nos devires inauditos como forma de estar  presente e  afirmar uma prática escrita  na  pele: o acontecimento, enfim.
(...)
A.M.

MILTINHO - Laranja madura (Ataulfo Alves)


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O PONTO DE DEMÊNCIA

"O verdadeiro charme das pessoas reside em quando elas perdem as estribeiras, quando não sabem muito bem em que ponto estão. Não são pessoas que desmoronam, pelo contrário, nunca desmoronam. Mas se não captar a pequena marca de loucura de alguém, não pode gostar desse alguém. Não pode gostar dele. É exatamente este lado que interessa. E todos nós somos meios dementes. Se não captar o ponto de demência de uma pessoa, eu temo que... Aliás, fico feliz em constatar que o ponto de demência de alguém seja a fonte de seu charme." 

Gilles Deleuze - L'abécédaire

ESTADO DAS COISAS

O deprimido vive o "endurecimento" do presente.O passado lhe condena e o futuro lhe ameaça. Resta o presente como uma espécie de refúgio ao devir. A depressão é um anti-devir, tentativa (obviamente)  fracassada de fazer parar o tempo.  Desse modo, a Depressão se instala e circula por todos as partes onde o devir coagula.  O meio são as instituições molares. Não se vive, não se cria, não se sente, mas se sobrevive.O organismo físico-químico, devidamente fabricado, mensurado e comercializado pelo biopoder médico, é uma dessas instituições. Suas couraças musculares (Reich) alimentam-se do consumo automático de uma subjetividade quimicamente induzida. Esta constitui o presente do tempo e o mercado dos anti-depressivos à mão.

A.M.

"De todas as coisas humanas, a única que tem o fim em si mesma é a arte."

Machado de Assis

BRASIL FICA EM PENÚLTIMO LUGAR NO RANKING MUNDIAL DA EDUCAÇÃO


terça-feira, 27 de novembro de 2012


MULHERES

Mulheres: gostava das cores de suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura.

Charles Bukowski

TANGO, TANGO



PENSAMENTO

O que se costuma chamar de “pensamento” são atividades cognitivas marcadas pelo uso representativo do conceito. A representação ( identidade, consciência,  eu, etc) é pura  Conserva.  A psiquiatria funciona segundo eixos representativos evidentes. Tomemos como exemplo o de “especialidade médica”. Ele neutraliza investidas críticas. Em tempos de especialismos,  o suposto  saber  representa. O sonho da representação é estancar os devires. Delirar é um processo cujo combustível é o desejo-produção. Ele explode os esquemas físico-químicos (que remédio prescrever?), familiaristas (quem é o culpado?), dilemas da consciência (ser ou não ser?) ou as  vicissitudes  do  eu( quem sou?). Assim, o pensamento como cognição é muito pobre para se  fazer  chegar à subjetividade dita  patológica. No entanto, a psiquiatria atual se serve dele numa Axiomática conectada ao modo de produção capitalista. É uma  aliança embutida na fraseologia  do especialismo. Desaparecem as possibilidades de pensar  diferente porque o pensamento está  dado como cognição redundante do real. A psiquiatria biológica não mais  se pergunta o que é  o real, de que  real  se  trata.  Gigantesco narcisismo, ela é o próprio real.
(...)
A.M.



SEM-TEMPO

A chave para todos esses mistérios de impecabilidade é o sentido de não ter tempo. Via de regra, quando você age como um ser imortal que tem todo o tempo do mundo, você não é impecável. Você deveria virar-se, olhar em volta e aí compreender que sua impressão de ter tempo é uma idiotice. Não há sobreviventes nesse mundo. Você deve agir sem acreditar, sem esperar recompensas, agir só por agir.

Carlos Castañeda 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

VAN GOGH

The Langlois Bridg

TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE: O QUE É ISSO?

(...) (...) Consideramos histórias clínicas em que as hipóteses diagnósticas esgotam as categorias  da CID-10, exceto uma. Desse modo, é freqüente se recorrer ao chamado “transtorno da personalidade”  ( TP ) ou mesmo ao que era antes chamado de “personalidade psicopática”( termo  criado por  Kraepelin  em 1904 ) como uma saída aos impasses da clínica   psicopatológica.  Isso  advém da dúvida: será uma psicose? A psiquiatria, enquanto sistema nosológico-conceitual , não  sabe definir com precisão uma psicose. Tomemos o exame de um paciente: de acordo com a semiologia,não há delírios, alucinações, nem ruptura com a realidade; por outro lado,  desvios de conduta,  às vezes  graves,  atestam algum signo  necessário para se  poder dizer afinal   do que se  trata. 
(...)
A.M.

domingo, 25 de novembro de 2012



Na estação das rosas procuro um campo florido
e sento-me à sombra com uma linda mulher;
não cuido da minha salvação: tomo o vinho
que ela me oferece; senão, o que valeria eu?

O. Kayyam

SÉRGIO RICARDO - Uma noite em 67


DELEUZIANAS

"Se não se experimenta a vergonha de ser homem, não há necessidade de fazer arte. Eu creio que um dos temas do pensamento é uma certa vergonha de ser um homem. Creio que o homem, o artista, o escritor que disse isso mais profundamente foi Primo Levi... "A vergonha de ser um homem" é uma frase esplêndida, mas é ao mesmo tempo muito concreta, nada abstrata. Ele não quer dizer as besteiras que querem que ele diga. Ele não quer dizer que somos todos assassinos ou culpados... Não quer dizer que os carrascos e as vítimas sejam os mesmos. Não nos farão crer nisso, não nos farão confundir o carrasco e a vítima. A vergonha de ser um homem não quer dizer que todos sejam parecidos... A vergonha de ser um homem quer dizer: como os homens puderam fazer isso? Como homens, que não eu, puderam fazer isso? E, em segundo lugar, como eu mesmo, sem me tornar um carrasco, pude pactuar tanto para sobreviver e carrego essa vergonha de ter sobrevivido no lugar de certos amigos que não sobreviveram? É então um sentimento muito complexo. Eu creio que na base da arte há esta idéia ou este sentimento muito vivo de uma certa vergonha de ser um homem... A arte consiste em liberar a vida que o homem aprisionou. O homem não cessa de aprisionar a vida, de matar a vida", diz o filósofo, evocando Primo Levi. É uma defesa da criação como forma de resistência aos poderes que submetem as potências da vida. "A confusão entre poder e potência é ruinosa, porque o poder sempre tem por objetivo separar as pessoas submetidas daquilo que elas podem... A potência é o prazer da conquista, não a conquista que leva à submissão das pessoas, mas aquela que tem o mesmo sentido de quando se diz que um pintor conquistou uma cor."

sábado, 24 de novembro de 2012


LONGE DO EQULÍBRIO

"A felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento. E, por certo, a estabilidade não é, nem de longe, tão espetacular como a instabilidade. E o fato de se estar satisfeito nada tem da fascinação de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de um combate contra a tentação, ou de uma derrota fatal sob os golpes da paixão ou da dúvida. A felicidade nunca é grandiosa."

Aldous Huxley

PHILIP GLASS -Tirol Concerto - Movimento II (parte 2)



POÉTICA 

Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor. 

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. 

Abaixo os puristas. 
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais 
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção 
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis 

Estou farto do lirismo namorador 
Político 
Raquítico 
Sifilítico 
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo. 

De resto não é lirismo 
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar &agraves mulheres, etc. 

Quero antes o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbados 
O lirismo difícil e pungente dos bêbados 
O lirismo dos clowns de Shakespeare. 

- Não quero saber do lirismo que não é libertação.

Manoel Bandeira

CHET BAKER - Tenderly



Diante da lei

Franz Kafka
Tradução de Torrieri Guimarães

Diante da Lei está um guarda. Vem um homem do campo e pede para entrar na Lei. Mas o guarda diz-lhe que, por enquanto, não pode autorizar-lhe a entrada. O homem considera e pergunta depois se poderá entrar mais tarde. - "É possível" - diz o guarda. - "Mas não agora!". O guarda afasta-se então da porta da Lei, aberta como sempre, e o homem curva-se para olhar lá dentro. Ao ver tal, o guarda ri-se e diz: - "Se tanto te atrai, experimenta entrar, apesar da minha proibição. Contudo, repara: sou forte. E ainda assim sou o último dos guardas. De sala para sala estão guardas cada vez mais fortes, de tal modo que não posso sequer suportar o olhar do terceiro depois de mim".

O homem do campo não esperava tantas dificuldades. A Lei havia de ser acessível a toda a gente e sempre, pensa ele. Mas, ao olhar o guarda envolvido no seu casaco forrado de peles, o nariz agudo, a barba à tártaro, longa, delgada e negra, prefere esperar até que lhe seja concedida licença para entrar. O guarda dá-lhe uma banqueta e manda-o sentar ao pé da porta, um pouco desviado. Ali fica, dias e anos. Faz diversas diligências para entrar e com as suas súplicas acaba por cansar o guarda. Este faz-lhe, de vez em quando, pequenos interrogatórios, perguntando-lhe pela pátria e por muitas outras coisas, mas são perguntas lançadas com indiferença, à semelhança dos grandes senhores, no fim, acaba sempre por dizer que não pode ainda deixá-lo entrar.O homem, que se provera bem para a viagem, emprega todos os meios custosos para subornar o guarda. Esse aceita tudo mas diz sempre: - "Aceito apenas para que te convenças que nada omitiste".

Durante anos seguidos, quase ininterruptamente, o homem observa o guarda. Esquece os outros e aquele afigura-se-lhe o único obstáculo à entrada na Lei. Nos primeiros anos diz mal da sua sorte, em alto e bom som e depois, ao envelhecer, limita-se a resmungar entre dentes. Torna-se infantil, e como ao fim de tanto examinar o guarda durante anos lhe conhece até as pulgas das peles que ele veste, pede também às pulgas que o ajudem a demover o guarda. Por fim, enfraquece-lhe a vista e acaba por não saber se está escuro em seu redor ou se os olhos o enganam. Mas ainda apercebe, no meio da escuridão, um clarão que eternamente cintila por sobre a porta da Lei. Agora a morte está próxima.

Antes de morrer, acumulam-se na sua cabeça as experiências de tantos anos, que vão todas culminar numa pergunta que ainda não fez ao guarda. Faz-lhe um pequeno sinal, pois não pode mover o seu corpo já arrefecido. O guarda da porta tem de se inclinar até muito baixo porque a diferença de alturas acentuou-se ainda mais em detrimento do homem do campo. - "Que queres tu saber ainda?", pergunta o guarda. - "És insaciável".

- "Se todos aspiram a Lei", disse o homem. - "Como é que, durante todos esses anos, ninguém mais, senão eu, pediu para entrar?". O guarda da porta, apercebendo-se de que o homem estava no fim, grita-lhe ao ouvido quase inerte: - "Aqui ninguém mais, senão tu, podia entrar, porque só para ti era feita esta porta. Agora vou-me embora e fecho-a".

- Fim -

Nota: Este conto faz parte também das cenas finais no livro de Kafka "O Processo".

"vai ter uma festa que eu vou dançar até o sapato pedir pra parar. aí eu paro tiro o sapato e danço o resto da vida."

(Chacal. rápido e rasteiro. In: Belvedere. Rio de Janeiro: Cosac & Naify, 2007. p. 353) 

"Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível."

N.Rodrigues

CÉU - Cordão da Insônia


ÉTICAS

Todas  as éticas partem do eu. São  ridículas. A psiquiatria parte  do eu. Seria melhor se  ela, ao contrário, partisse o eu em mil conexões, subjetividades. Você acredita? Os pacientes não acreditam,  creditam à  psiquiatria um ganho  sobre  si  mesma, um empreendimento. Procuram um psiquiatra remedeiro que resolva. O molde está pronto para quem quiser.Ser-médico? Ser-paciente?  Ou o inverso. O mundo roda. A ética desceu das  alturas para o fino contato terrestre. Nada  pronto. Qual a  ética da psiquiatria? A  regra  acadêmica, recheada de boas  intenções, diz: vocês têm  que ser felizes, principalmente  às  custas do remédio químico,  pois, afinal,  a mente  é  pura  bioquímica, ninguém duvida. Contudo,  não  há diálogo frente às destruições  concertadas  da  subjetividade. Esta  é  uma fala  de loucos forclusivos ou apenas delirantes. O universo psi serve tão somente para barrar e borrar o desejo em suas  expressões imperceptíveis. Pouco mais  a dizer aqui senão o escape micro-político. A psiquiatria é o delírio crônico.“Eus”à postos, salvaguardas da razão, argumento indefensável a favor do sistema. No entanto, alguma coisa  vaza.
(...)
A.M.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

WILLIAM TURNER

Pescadores e o mar

VIAGENS DE MIGUEL

Com 1 ano e 8 meses de idade, Miguel não chora. Ou melhor, não chora o choro dos adultos, essa coisa ressentida e amarga. Ao contrário, seu choro é um grito, um grunido que segue as curvas invisíveis da alma. A alma é corpo, é um corpo, o próprio ritmo das suas andanças. O que você quer, Miguel? Ele só me responde com atos concretos. Por exemplo, contempla a chuva ou sai nu em disparada pela casa. Não dá para alcançá-lo. Seu pensamento voa a velocidades infinitas, traça semióticas incompreensíveis aos néscios e aos aduladores da razão e da moral. Miguel viaja muito, observa muito, infere do mundo a sede de viver e o gosto irrepreensível de uma alegria contagiante. Essa alegria pega e me pega até em momentos não tão alegres. O que importa é que isso me faz e me compõe aprendiz da arte, talvez a maior, a Arte de viver.

A.M.
CONCEITOS

Psiquiatria coletiva: a que concebe o saber psiquiátrico como não hegemônico, atravessando e sendo atravessado por multiplicidades de saberes sobre a loucura.  Psiquiatria materialista: a que coloca os afetos e os sistemas de crenças  do paciente como base para o trabalho clínico.

A.M.

CHICO BUARQUE - Ode aos ratos



RECLAME
SE O MUNDO NÃO VAI BEM
A SEUS OLHOS, USE LENTES
... OU TRANSFORME O MUNDO.
ÓTICA OLHO VIVO
AGRADECE A PREFERÊNCIA

Chacal

Direito de escolher 

No diálogo com Blattchen, Prigogine defende-se de uma das inúmeras acusações que sofreu  neste caso, do matemático francês René Thom, acusando-o de "deserção". Prigogine diz que a posição de Thom está ligada ao fato de que "para ele a ciência deve estar baseada no determinismo: se eu evitar o determinismo, serei desertor. Em suma, ele propõe: Jesus ou Newton, é preciso escolher. Na minha opinião, é uma maneira errada de colocar o problema. Porque, se verdadeiramente o Universo for um autômato, não há maneira de evitar a idéia de que é um deus, alguma coisa de exterior, que o pôs em movimento. Portanto, o materialismo clássico, o determinismo clássico, conduz justamente a uma teologia. Enquanto que, se você tiver a auto-organização, uma construção pelo interior, a questão de Deus se coloca diferentemente. Quer essa construção venha das leis da própria natureza, ou de um programa exterior; mas, em todo o caso, há uma escolha, uma liberdade e uma responsabilidade". 
(...)
Ulisses Capozzoli - (2003)

CARYBÉ

Capoeira na praia

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

TRANSTORNOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA

A reforma psiquiátrica encontra-se travada. Entre as causas, pelo menos  duas. 1ª)  Falta de vontade política dos poderes públicos; 2ª) Psiquiatrização  das  equipes  técnicas.  É claro que  estes dois ítens, principalmente o primeiro, estão condicionados aos fatores e problemas  singulares de  cada cidade ou região do país. No segundo caso, contra a  “psiquiatrização” ergueu-se uma oposição: a luta anti-manicomial; isso gerou uma espécie de dualismo encardido: psiquiatras versus não-psiquiatras. E o paciente? A coisa permanece ao nível do eu e da consciência. Vaidades se erguem. Pergunto: onde está a loucura? Qual a concepção e a relação destes dois segmentos com a loucura? Percebe-se ressentimentos crônicos assombrando corporações, e  - pior -  práticas clínicas anacrônicas. A reforma não avança. Poucos se afastam  do “euzinho”  privado. A neurose  permanece o muro do significante.
(...)
A.M. - (2010)

ANA CAÑAS - Carente Profissional



en la lucha de clases 
todas las armas son buenas 
piedras 
moches 
poemas 

P. Leminski
O CÉREBRO SENTE

(...) (...) Consideremos a psicopatologia com os seus  sintomas+sinais =diagnóstico, ao jeito da psiquiatria. Mesmo tal enunciado corresponde a uma multiplicidade. O paciente é  composto por  linhas singulares misturadas às linhas diagnósticas. A vivência  de cada  uma delas corresponde  aos devires em curso ou a serem desencadeados. A multiplicidade-paciente compõe-se com outras,  inclusive a multiplicidade-médico-que-o-atende ou o  psicoterapeuta, etc. Ligá-la  a outras  multiplicidades implica em considerar o Encontro no próprio seio dessa realidade. Sem o encontro não há multiplicidade, ou o inverso. Os devires são relações singulares  com as pessoas, os  objetos, o mundo.A rigor, eles não são mas tornam-se, esta a própria  definição do verbo. No caso do devir-pensamento, muda a concepção de cérebro, muda a prática clínica. Não estamos mais  diante  de um cérebro-objeto à espera  da  fabricação de imagens que  irão representá-lo num  écran, e sim de um "cérebro-pensamento", marcado por linhas existenciais incertas a serem exploradas. 
(...)
A.M.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PENSAR É O OBJETO DE UM ENCONTRO

Propomos avaliar o “pensar” ao invés  do pensamento; este, um depósito de sanções conceituais  dualísticas, seja como o puro espírito, seja como secreção oriunda de um cérebro apassivado. Nem uma coisa nem outra, o pensamento é  o fluxo dos devires que  traça suas linhas tortuosas na busca de expressões do mundo. Uma clínica voltada apenas à visibilidade das coisas  não mostra  isso. Ademais, fabrica outro corpo e o chama de organismo. Onde, pois,  estaria  o pensamento? 

A.M.

LISA YUSKAVAGE


terça-feira, 20 de novembro de 2012

SAIR DOS TRILHOS

(...) (...) O delírio é  um conceito-chave em  psicopatologia.  Uma clínica da diferença se faz a  partir  desse dado implícito, mesmo que  o paciente  não esteja  delirante  nem  seja  ou tenha sido um delirante. Sob um olhar  psiquiátrico, o delírio será  um sintoma. Ainda  que tal  concepção seja  útil em momentos pontuais, ela mutila a vivência delirante enquanto sistema de crenças estabelecido como uma verdade. Esse  fato tem implicações na terapêutica farmacológica. A ação  de medicar, quando imediata, pode tamponar o sintoma e impedir que surjam possibilidades de acesso ao universo  delirante do paciente. Para melhor equacionar os  casos, partimos  do  fato  de que existem múltiplas formas clínicas do delírio. Elas demandam atitudes terapêuticas  distintas. Buscar linhas de singularização consiste em pôr o delírio num quadro  diagnóstico básico sem perder a potência infinita de afirmar um mundo, produzir  um sentido, por mais  insignificante  que  este  seja. 
(...)
A.M.

ISABELLE STENGERS



Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.


Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.



Maiakóvski


Lei como regime de signos

(...) (...) Entende-se a lei como mecanismo que constrói códigos sobre os corpos.  Regras nascidas da convenção e se instituem enquanto “marcas” nos indivíduos. A lei é signo e é a base da formação social. Segundo Deleuze e Guattari: “... a sociedade não é primeiramente um meio de troca onde o essencial seria circular ou fazer circular, mas um ‘socius’ de inscrição onde o essencial é marcar e ser marcado". Por que a lei precisa fazer inscrição no corpo em forma de marcas?  A lei não pertence ao corpo, isto é, não nasce com ele.  Ela é necessária para organizar o corpo selvagem através de seus códigos.  Pertence à ordem moral.
(...)
Lea Guimarães e Murilo Guimarães - do texto Lei e corpo

JORGE BEN - Oba, lá vem ela


Quem é escritor?

(...) (...) Gosto de Van Norden, mas não partilho de sua opinião a respeito de si próprio. Não concordo, por exemplo, em que ele seja um filósofo ou pensador. É obcecado por fêmeas, nada mais. E nunca será um escritor. Sylvester também jamais será um escritor, embora seu nome cintile em lâmpadas vermelhas de 50 000 velas. Os únicos escritores ao meu redor pelos quais tenho algum respeito, atualmente, são Carl e Bóris. São possessos. Brilham por dentro com uma chama branca. Estão mortos e surdos aos tons musicais. São sofredores.
(....)
Henry Miller - do livro Trópico de câncer

CONSCIÊNCIA NEGRA


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A CIÊNCIA DA ALMA

(...) (...) Na clínica psiquiátrica, pressupostos teóricos para o ato de “passar remédios”  desvalorizam a escuta do paciente em prol da observação e cadastramento dos sintomas. Daí, a busca pela extinção (do sintoma) constituir a própria essência da prescrição farmacológica. É um dado propedêutico lastreado ao longo da história da psiquiatria. Antes de tudo, a “ordem” é controlar as condutas, torná-las socialmente aceitas. Isso se produz (em tempos do capital) como código implícito da psiquiatria biológica. Compõe o seu inconsciente histórico-institucional. Podemos resumir dizendo que se é “inconsciente” não pode ser percebido pelos atores, os psiquiatras. Não há culpa, pois. Tudo se naturaliza...como violência delicada.

A.M.

JORGE DANDOLO



ESTRANHOS AFETOS

O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.

Charles Bukowski

PORQUE A ARTE

(...) (...) O   Encontro é antes de tudo uma produção do desejo de arte. Ou  melhor, o desejo como arte precede a  técnica.  Mas, o que  é  a arte?  Qual  o significado  da experiência  da arte   nesse percurso conceitual? Também poderíamos  perguntar: como fazer arte? A arte é um estilo como   também um exílio, um dom, uma potência de viver fora das normas prévias, inclusive as da linguagem verbal.Neste sentido, a clínica dos transtornos mentais, sob o atual paradigma (neuro-científico),  nunca esteve  tão  distante  da subjetividade do paciente.  
(...)
A.M.

ALBERT KING - Blues power



Idealismo

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.
E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!

Augusto dos Anjos

ANDRÉ KERTÉSZ


O QUE É PENSAR?

(...) (...)  É essencial registrar  que o exame do paciente acaba ficando mediado pela fala no sentido mais comum e operatório do contato social. Digamos: uma máquina não está funcionando a contento e é preciso consertá-la. Esse modo de ver não constitui uma acusação à semiologia  psicopatológica atual. Bem mais, trata-se de demonstrar sua insuficiência técnica “essencial”   com repercussões por vezes  danosas sobre a conduta  terapêutica. O que o paciente  diz  e faz  (o visível e o dizível) se alternam sob uma avaliação que busca sintomas. Ora, o pensamento não segue  uma linha  fixa  de racionalidade, nem mesmo  nas pessoas  ditas  normais. Além disso, ele  é, por excelência, invisível e se move a velocidades infinitas. Estamos diante de uma instância  subjetiva  que se apresenta em ações não  mensuráveis. O pensamento é o silêncio e nem por  isso deixa  de ser pensamento  ou  de  pensar.
(...)
A.M.

ONDA DE VIOLÊNCIA


domingo, 18 de novembro de 2012


EM NOME DA CIÊNCIA

“O médico, que não quer se assemelhar a um charlatão, vive com mal-estar a dimensão taumatúrgica  de sua atividade. O paciente, acusado de irracionalidade, intimado a se curar pelas “boas” razões, hesita.Onde, nesse emaranhado de problemas, de interesses, de constrangimentos,  de temores, de imagens, está  a “objetividade”? O argumento “em nome da ciência” se encontra  por  toda parte, mas não pára de mudar  de sentido”, 

Stengers, I., A invenção das ciências modernas,S. Paulo, Ed.34, 2002, p.35.

DA ESTÉTICA

"Hoje, sob a impressão dos ferimentos que meu corpo recebeu em diferentes circunstâncias, seja pela fatalidade do meu nascimento, seja por minha própria culpa; desalentado pelas conseqüências da minha queda moral (algumas dentre elas aconteceram; quem poderá prever as outras?); espectador impassível das monstruosidades adquiridas ou naturais, que decoram as aponevroses e o intelecto de quem vos fala, lanço um prolongado olhar de satisfação à dualidade que me compõe... e me acho belo! Belo como o vício de conformação congênito dos órgãos sexuais do homem, que consiste na brevidade relativa do canal da uretra e na divisão ou ausência da parede inferior, de modo que o canal se abra a uma distância variável da glande e por baixo do pênis; ou, ainda, como a verruga carnuda, de forma cônica, sulcada por rugas transversais bem profundas, que se ergue na base do bico superior do peru; ou melhor, como a seguinte verdade: "O sistema de gamas, modos e encadeamentos harmônicos não repousa em leis naturais invariáveis, mas é, ao contrário, conseqüência de princípios estéticos que variam com o desenvolvimento progressivo da humanidade e que continuarão variando!"; e, principalmente, como uma corveta encouraçada com torreões! Sim, sustento a exatidão da minha afirmação. Não tenho ilusões presunçosas, orgulho-me disso, e nada ganharia em mentir; de modo que, quanto ao que eu disse, não deveis vacilar em acreditar-me. Pois, como iria eu inspirar horror a mim mesmo, diante dos testemunhos elogiosos que partem da minha consciência?"

Conde de Lautrémont - do livro Cantos de Maldoror - (canto sexto)


NÃO-PENSAR

(...) (...)  Pacientes registrados, cadastrados, codificados, rotulados  sob o efeito de  formas sociais (instituições) como a família, a clínica, a escola, o trabalho, o direito, o estado, a polícia, o casamento, entre outras, estão enfiados em buracos negros onde o devir-pensamento  foi  relegado a uma atividade cognitiva  mínima, rasteira, como registram os manuais  psiquiátricos. Curso, forma, conteúdo, raciocínio, juízo, são categorias semiológicas usadas num exercício de mortificação do devir-pensamento. Elas compõem o mundo da representação. Tornar o pensamento visível e frear a sua velocidade infinita, isso sempre foi assunto  dos  psiquiatras e adquire na psiquiatria  atual  o requinte  das  tecnologias  de ponta.
(...)
A.M.

SEM PALAVRAS


Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

Mario Quintana

GEORGE BATAILLE



Elegia 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, 
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

Carlos Drummond de Andrade

VIOLÊNCIA NA FAIXA DE GAZA



Que pobre o coração que não sabe amar
e não conhece o delírio da paixão.
Se não amas, que sol pode te aquecer,
ou que lua te consolar?

Omar Kayyam

WILLIAM TURNER

Naufrágio

sábado, 17 de novembro de 2012


Ministro de Israel diz que objetivo de operação é enviar Gaza de "volta à Idade Média"

"O objetivo da operação é enviar Gaza de volta à Idade Média". Foi o que disse o ministro do Interior de Israel, Eli Yishai, neste sábado (17), após os ataques aos edifícios governamentais do Hamas, na Faixa de Gaza, segundo o jornal israelense "Haaretz".
AFETOS EM JOGO

(...) (...) O Encontro é essencial para a construção  da clínica, mas  dela  se  separa como superfície a-significante num campo livre para experimentações. Constitui-se como um sistema aberto. Dessa perspectiva, ir ao paciente, chegar ao paciente não é chegar à pessoa do  paciente, mas a tudo  que envolve a pessoa, dissolvendo-a em partículas mínimas, até  mesmo  invisíveis.   
(...)
A.M.

PAULO MOSKA - O último dia


FASCISMO PSIQUIÁTRICO

A máquina biológica da psiquiatria atual é axiomática: todos são portadores de algum transtorno mental, até exame em contrário.

A.M.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


TRANSTORNO, NÃO DOENÇA

(...) (...) A psiquiatria biológica, que emerge por volta da segunda metade do século XX a 
partir da importação de conteúdos das neurociências e do desenvolvimento da 
psicofarmacologia, não tem como objeto de estudo a doença mental. Com a publicação, 
em 1980, da terceira edição do  Manual de Estatística e Diagnóstico  (DSM), da 
Associação Psiquiátrica Americana (APA), o termo “doença” foi abolido do léxico 
psiquiátrico. Desde o seu surgimento do século XVIII, sempre causou desconforto e 
descrédito à psiquiatria autodenominar-se uma ciência médica sendo que a 
“materialidade” dos problemas que se propõe a tratar nunca pode ser objetivamente 
observada. Para o pânico dos psiquiatras, as psicopatologias não deixam marcas 
orgânicas, nem mesmo sinais que permitam diferenciar um cérebro “são” de outro 
“insano”. As poucas doenças mentais nas quais foi possível localizar alterações 
orgânicas no cérebro – por exemplo, o Mal de Alzheimer – deixaram de fazer parte do 
campo psiquiátrico para se tornar assunto da neurologia. Por esta, dentre outras razões, a 
psiquiatria abandonou o termo “doença” e adotou a palavra “transtorno” para nomear 
aquilo que é objeto de sua atenção e tratamento.
(...)
Leandro Siqueira - do texto Somos todos trasntornados: sujeições e servidões na sociedade de controle,agosto de 2011.

EDU E JOBIM - Luiza



Palestina bombardeia Jerusalém ao fim de 40 anos
Em 72 horas de ofensiva aérea israelita, os palestinianos mortos em Gaza são 28, entre eles 16 civis, oito crianças e uma grávida

Por: Redacção / Miguel Cabral de Melo    |   2012-11-16 22:42

Ao fim de mais de 40 anos, um rocket lançado pelos palestinianos atingiu Jerusalém.

Apesar da cúpula de ferro (sistema de defesa anti-míssil), Israel não consegue evitar ser atingido pelos rockets disparados da faixa de Gaza.

E são projéteis mais sofisticados do que antes, capazes de chegar mais longe. Pelo segundo dia consecutivo, chegaram a Telavive. E, pela primeira vez desde 1970, um rocket palestiniano caiu na área de Jerusalém, a cidade que é reclamada como capital por ambos os lados.

A sexta-feira começou com a expetativa de uma acalmia. Israel anunciou um cessar-fogo de três horas enquanto durava a visita do primeiro-ministro egípcio, líder de um executivo saído da Irmandade Muçulmana, da qual o Hamas é um ramo, à faixa de Gaza. Mas o curto cessar-fogo, praticamente não existiu, com israelitas e palestinianos a acusarem-se mutuamente. O próprio Morsi repetiu a denúncia de agressão israelita.

Mas Cairo tem um acordo de paz com Israel há 33 anos e o novo poder prometeu não o rasgar.

Em 72 horas de ofensiva aérea israelita, os palestinianos mortos em Gaza são 28: 12 militantes e 16 civis, incluindo oito crianças e uma grávida. Do lado judaico, três civis mortos.

Israel já convocou 30 mil reservistas e mais de metade já estão a ser destacados. O executivo judaico decidiu, entretanto, convocar até 75 mil reservistas. São números que apontam no sentido de uma intervenção terrestre na faixa de Gaza. Ou, no mínimo, será uma manobra e guerra psicológica.