TRANSTORNO, NÃO DOENÇA
(...) (...) A psiquiatria biológica, que emerge por volta da segunda metade do século XX a
partir da importação de conteúdos das neurociências e do desenvolvimento da
psicofarmacologia, não tem como objeto de estudo a doença mental. Com a publicação,
em 1980, da terceira edição do Manual de Estatística e Diagnóstico (DSM), da
Associação Psiquiátrica Americana (APA), o termo “doença” foi abolido do léxico
psiquiátrico. Desde o seu surgimento do século XVIII, sempre causou desconforto e
descrédito à psiquiatria autodenominar-se uma ciência médica sendo que a
“materialidade” dos problemas que se propõe a tratar nunca pode ser objetivamente
observada. Para o pânico dos psiquiatras, as psicopatologias não deixam marcas
orgânicas, nem mesmo sinais que permitam diferenciar um cérebro “são” de outro
“insano”. As poucas doenças mentais nas quais foi possível localizar alterações
orgânicas no cérebro – por exemplo, o Mal de Alzheimer – deixaram de fazer parte do
campo psiquiátrico para se tornar assunto da neurologia. Por esta, dentre outras razões, a
psiquiatria abandonou o termo “doença” e adotou a palavra “transtorno” para nomear
aquilo que é objeto de sua atenção e tratamento.
(...)
Leandro Siqueira - do texto Somos todos trasntornados: sujeições e servidões na sociedade de controle,agosto de 2011.
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