domingo, 25 de novembro de 2012

DELEUZIANAS

"Se não se experimenta a vergonha de ser homem, não há necessidade de fazer arte. Eu creio que um dos temas do pensamento é uma certa vergonha de ser um homem. Creio que o homem, o artista, o escritor que disse isso mais profundamente foi Primo Levi... "A vergonha de ser um homem" é uma frase esplêndida, mas é ao mesmo tempo muito concreta, nada abstrata. Ele não quer dizer as besteiras que querem que ele diga. Ele não quer dizer que somos todos assassinos ou culpados... Não quer dizer que os carrascos e as vítimas sejam os mesmos. Não nos farão crer nisso, não nos farão confundir o carrasco e a vítima. A vergonha de ser um homem não quer dizer que todos sejam parecidos... A vergonha de ser um homem quer dizer: como os homens puderam fazer isso? Como homens, que não eu, puderam fazer isso? E, em segundo lugar, como eu mesmo, sem me tornar um carrasco, pude pactuar tanto para sobreviver e carrego essa vergonha de ter sobrevivido no lugar de certos amigos que não sobreviveram? É então um sentimento muito complexo. Eu creio que na base da arte há esta idéia ou este sentimento muito vivo de uma certa vergonha de ser um homem... A arte consiste em liberar a vida que o homem aprisionou. O homem não cessa de aprisionar a vida, de matar a vida", diz o filósofo, evocando Primo Levi. É uma defesa da criação como forma de resistência aos poderes que submetem as potências da vida. "A confusão entre poder e potência é ruinosa, porque o poder sempre tem por objetivo separar as pessoas submetidas daquilo que elas podem... A potência é o prazer da conquista, não a conquista que leva à submissão das pessoas, mas aquela que tem o mesmo sentido de quando se diz que um pintor conquistou uma cor."

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