sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O APARELHO SAÚDE MENTAL

(...) (...) A saúde não é assunto só da medicina, muito menos  a saúde mental. Não é possível   falar de  uma  saúde mental oficial. Não há decreto para o conceito, porque não  há o conceito e sim conceitos  criados sob contingências  sociais e políticas. O conceito  oficial de saúde mental é  uma   instituição, modelo abstrato de intervir sobre o outro, o paciente. A saúde mental deixa  de ser um processo para se tornar  um aparelho. Daí, trabalhar a partir da experiência do paciente, mormente na psicose, requer do técnico ir “além” desse aparelho. Este não dá conta da complexidade das  crenças e  dos afetos. Usamos a loucura como uma espécie  de não-conceito,  campo de intensidades   fluidas. Ele  segue o fluxo dos devires, empurra e isola   a saúde mental para  o campo da repetição serial do diagnóstico. Enfim, libera um espaço de criação  e  redefine o propósito de encontrar o paciente e não o  de examiná-lo. Sabemos que isso é difícil  pois a  saúde mental opera num regime binário de significação: normais ou  doentes. É uma marca de  poder. Conta com dispositivos reducionistas para chegar ao paciente. Entre eles, o exame psíquico. Este enquadra a expressão do outro como doença, patologia, síndrome, transtorno, tanto faz. Chegar ao paciente não é encontrá-lo. Este  pensamento se materializa em práticas de  fabricação e controle  de subjetividades individuadas: o louco varrido, o traste. Há um uso da loucura como representação da realidade, e não a própria realidade. 
(...)
A.M.

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