PENSAR AS MULTIPLICIDADES NÃO É FÁCIL (cont.)
(...) (...) ”Eu sou meu delírio”, “Eu sou minha tontura”, etc. As linhas singulares estão embutidas e só se mostram ao exame quando as relações com o mundo (o que inclui o próprio eu) acontecem e se firmam como referências de verdade. O paciente diagnosticado pela psiquiatria traça linhas singulares na esteira do diagnóstico e/ou dos signos que remetem a esse diagnóstico. Linhas singulares são modos de ser que se expressam no desempenho de papéis sociais. Sendo assim, o papel social “portador de transtorno mental” acaba sendo um modo de subjetivação exclusivo, capturando linhas singulares e as desfigurando na pessoa do doente.Apesar disso, não queremos colocá-las como o “lado não doente” do paciente. Elas constituem, sim, o paciente, elas são a materialidade do paciente em termos de processo subjetivo, devir, acontecimento, o que implica numa ótica de outra natureza em relação ao fenômeno da loucura. Mudança de perspectiva sobre a saúde mental. A psiquiatria estanca nesse ponto porque não dispõe de instrumentos conceituais para pensar e fazer a diferença. Nem é esse o seu mister. Além disso, compromissos morais e políticos lhe travam a percepção do Outro.
(...)
A.M.
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