MICROPOLÍTICAS
É necessário guardar o suficiente do organismo para que ele se
recomponha a cada aurora; pequenas provisões de significância e de
interpretação, é também necessário conservar, inclusive para opô-las a seu
próprio sistema, quando as circunstâncias o exigem, quando as coisas, as
pessoas, inclusive as situações nos obrigam; e pequenas rações de
subjetividade, é preciso conservar suficientemente para poder responder à
realidade dominante. Imitem os estratos. Não se atinge o CsO * e seu plano
de consistência desestratificando grosseiramente. Por isto encontrava-se
desde o início o paradoxo destes corpos lúgubres e esvaziados: eles haviam
se esvaziado de seus órgãos ao invés de buscar os pontos nos quais podiam
paciente e momentaneamente desfazer esta organização dos órgãos que se
chama organismo. Havia mesmo várias maneiras de perder seu CsO, seja
por não se chegar a produzi-lo, seja produzindo-o mais ou menos, mas nada
se produzindo sobre ele e as intensidades não passando ou se bloqueando.
Isso porque o CsO não pára de oscilar entre as superfícies que o
estratificam e o plano que o libera. Liberem-no com um gesto demasiado
violento, façam saltar os estratos sem prudência e vocês mesmos se
matarão, encravados num buraco negro, ou mesmo envolvidos numa
catástrofe, ao invés de traçar o plano. O pior não é permanecer estratificado
— organizado, significado, sujeitado — mas precipitar os estratos numa
queda suicida ou demente, que os faz recair sobre nós, mais pesados do que
nunca,
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol 3
CsO = Corpo sem Órgãos
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