sábado, 4 de junho de 2016

Agora só espero a despalavra: a palavra nascida para o canto-desde os pássaros. 
A palavra sem pronúncia, ágrafa. 
Quero o som que ainda não deu liga. 
Quero o som gotejante das violas de cocho. 
A palavra que tenha um aroma ainda cego. 
Até antes do murmúrio. 
Que fosse nem um risco de voz. 
Que só mostrasse a cintilância dos escuros. 
A palavra incapaz de ocupar o lugar de uma imagem. 
O antesmente verbal: a despalavra mesmo.

Manoel de Barros

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