terça-feira, 1 de maio de 2018

MIL ESQUERDAS

Há uma sensibilidade de esquerda completamente estranha à da esquerda marxista. Esta, em sua versão ortodoxa, contribuiu historicamente para esmagar a voz da diferença. O estalinismo e suas máquinas assassinas, marcaram... Ao contrário, no pensamento da multiplicidade o texto de Marx é utilizado apenas em pedaços nunca totalizáveis, jamais remetendo a um significante despótico. Trata-se da busca de um certo entendimento (não burguês) da realidade do capital, já que foi Marx o autor que talvez mais haja escrito sobre ela. Assim, é possível falar do econômico como um conceito bem mais amplo que financeiro. A propósito, "desejo" é um conceito econômico e não sexual, pelo menos numa acepção deleuziana. Não há uma esquerda, mas mil, cem mil esquerdas. O que têm em comum é a afirmação das diferenças: singularizações múltiplas. Nenhuma abstração aqui e sim práticas sociais concretas, mesmo invisíveis ao olhar imediato do senso comum. A luta das minorias (não quantitativas, mas desejantes) serve como referência a tais esquerdas. É possível citar, a guisa de exemplos, algumas minorias que suportam a marca da opressão sob variados matizes e gravidade. Os pobres, os operários, as mulheres, as crianças, os negros, os índios, os velhos, os loucos, os homossexuais (incluindo-se os "n" sexos),os imigrantes, entre outras, atravessam a História e o seu pesadelo, como diria Joyce.Uma sensibilidade de esquerda é afetada pelas linhas coletivas que compõem tais minorias. Não para buscar uma identidade, mas para libertar a vida, ali onde ela foi esmagada.

A.M.


Obs. - Texto revisado, ampliado e republicado.

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