ÉTICA EM NIETZSCHE
(...)
No lugar de enunciar o que deve ser dirigido ao conjunto dos homens, a ética de Nietzsche
professa o que vem a ser, enquanto manifestação singular que diferencia os homens. Cada homem
apresenta um devir diferente, dado expressar as lutas processadas apenas no seu organismo e, por
isso, diferenciadas das que se dão em outro. Novamente, é o quanto de potência que se é que decide
o vir-a-ser humano assim como a distinção irredutível entre homem e homem. De fato, Nietzsche
situa o agir humano na perspectiva da explosão de força, isto é, na manifestação das lutas que se
processam em profundidade. Assim, falar no que vem a ser é resgatar os processos não conscientes
determinantes daquilo que se tem acesso através da consciência. Por isso, a necessidade manifesta-se
no sentido de que só pode vir-a-ser aquilo que já se é, pois são as hierarquias resultantes das lutas
que situam o homem na relação com outro homem. Nesse sentido, a ética nietzschiana remonta à sua
interpretação fisiológica, trata-se da interpretação de uma multiplicidade de vontades de potência
que se digladiam permanentemente e introduzem perspectivas que dotam a existência de sentido
e de valor. Entretanto, não se trata de um princípio metafísico, explicar a ação desde a unidade da
vontade, mas de interpretar a presença de uma multiplicidade de vontades enquanto acontecer. É
na necessidade da luta e na perspectiva necessária enquanto resultado da disputa que se encontra,
em Nietzsche, a possibilidade de interpretar o agir humano desde a necessidade e prescrever-lhe o
amor enquanto aceitação do seu vir-a-se como fatum.
Vânia Dutra de Azeredo, in "Nietzsche e a perspectiva de uma nova ética", 2009
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