sexta-feira, 22 de junho de 2018

O TEMPO NA PSICOTERAPIA

Na prática da psicoterapia aprendemos que o tempo é o tecido da vida. Este dado aparece muito claro no processo de mudança existencial que toda terapia, em maior ou menor grau, promove. Os modos de subjetivação (estilos de viver) tornam-se concretos na medida em que a experiência de si e do mundo se mistura ao tempo-desejo sem forma, numa palavra, aos devires incontroláveis. O corpo que não aguenta mais. Isso implica na abertura de linhas desejantes criadoras de sentido. Portanto, o tempo, assim como H. Bergson o definiu, "é criação ou não é nada". Uma psicoterapia, a que acolhe signos múltiplos oriundos da ciência, da filosofia e da arte, se instala em territórios refratários aos dilemas da consciência. Assim, para muito além da psicanálise, a qual explora ad nauseam um inconsciente representativo, edipiano e familiarista, o método da diferença capta afetos impossíveis de sonhar, mas passíveis de metamorfoses rumo a um outro viver. Isso impõe riscos. Contudo, há regras de prudência (cf. G. Deleuze) elaboradas no interior de uma ética da alegria e de uma estética do novo. Desfaz-se o tempo como alta do tratamento (conceito médico) para uma implicação profunda e inadiável do paciente com a sua própria alma, ou seja, consigo mesmo.


A.M.

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