sexta-feira, 15 de junho de 2018

DEVIRES

O paciente vive entristecido pela Grande Máquina. Sua alegria foi aniquilada em plena vigília. Do nada.Ninguém assume a autoria dos pequenos  crimes. Eles são  administrados em nome da  paz de espírito. Ora, o espírito também caga. Avise aos últimos palhaços que a arte foi solapada em nome do ideal dos homens de branco.Ao que  me consta, nada mudou no sulco das bocas. Elas falam rachando dentes. Mastigam auroras nati-mortas. Mas o Rosto carrega uma expressão justa, como negar? A  bondade natural dos  humanos. Ó Lovecraft,  socorrei! Apenas uma cidade  respirando um arco-íris, manda por  favor... Não falo por  mim. Por mim, ó... Falo pelo que não sou, falo por devires. Escutai a canção do mundo... Você dança? O paciente sucumbe à  Ordem. Por favor, o senhor pode  me dizer as horas? Já vai tarde o tempo dos  mestres, com todo  o  respeito. Sonâmbulos da própria  dor, como falar aos que não falam? A  Grande Máquina é uma  pequena dose de benefícios a curto e  médio prazo. Ela se insinua na febre dos corredores infectos. Um susto, um sus. Tudo é contágio. Resistir à morte,  querida, e fazer dessa vibração algo de novo, será  possível? Talvez um devir-amante imerso  em trepadas millerianas. Bicho, perdoa  o jeito canino: o que é necessário para viver por viver?Pacientes são pacientes demais.Armaduras químicas, lições de casa, manuais de sobrevivência, coisas simples, eles são normais.Eu queria um gosto de sol em você, em suas dores mais intensas e  irremediáveis. Pena que  a sombra dos quintais do passado anuncie sessões de tortura regadas à dinheiro. A entrega é às oito.Todos estarão lá, até o chefe da  Facção Sinistra, aquele  mesmo que  começou a seduzir a multidão com truques de falar macio. Não tem jeito. Somos  inocentes radicais.

A.M.

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