MENTIRAS VERDADEIRAS
Na internet podemos encontrar uma irônica frase do escritor americano Mark Twain (1835-1910): “Uma mentira pode estar na metade da viagem ao redor do mundo enquanto a verdade ainda está colocando seus sapatos”. Mas, 108 anos após a morte de Twain, essa “viagem” pode ocorrer em poucos minutos graças às redes sociais, sobre as quais o ensaísta italiano Umberto Eco (1932-2016) disse que “dão o direito de fala a legiões de idiotas, tal como o idiota do vilarejo, que antes falava só no boteco depois de um copo de vinho, sem prejudicar a comunidade (...) Mas agora ele tem o mesmo direito a falar que um prêmio Nobel. A internet promoveu o tonto da aldeia ao nível do portador da verdade”.
Esse é o caso de informações falsas que são divulgadas e repetidas ad nauseam como verdadeiras. São as mentiras nas quais muitas pessoas querem acreditar porque são funcionais para seus preconceitos, medos ou suas convicções ideológicas. Espécies de “falsidades com adoçante”, enviadas por amigos ou um parente de um conhecido de um colega do vizinho do ex-marido da filha da tia Teresinha, que mora em Santa Etelvina do Paranaquiaba. Isto é, uma endogamia informativa, já que essas informações são compartilhadas por membros de redes que têm confiança uns nos outros. E, quanto mais retuítes ou “curtidas” uma informação tenha, maior credibilidade adquire — numa espécie de “certificação” conferida por pessoas por uma questão de fé, sem qualquer evidência que a confirme.
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Ariel Palácios, Época,24/06/2018, 10:57 hs
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