A psicose é uma síndrome psiquiátrica em que o paciente apresenta basicamente um rompimento, em maior ou menor grau, com a Realidade. Esta realidade constitui o território vivencial onde ele estabelece a verdade de si e do mundo. Trata-se de um sistema complexo de valores produzidos por instituições (formas sociais) inacessíveis à consciência e à razão. É possível dizer que, sob as condições da modernidade, tais instituições é que fabricam (como numa linha de montagem) a consciência e a razão. Tudo vem de fora... A clínica mostra que a experiência psicótica implica em certezas tão mais inquestionáveis quanto maior a gravidade do caso. Ora, no universo de sentido atual, não só no Brasil, mas em todo o mundo, as certezas vacilam. O caso da política é exemplar, já que os termos "direita" e "esquerda" se prestam a usos cada vez mais distantes dos significados da Revolução Francesa. Entramos e estamos num mundo de dissolução do sentido, e por extensão, de aniquilamento da subjetividade como forma identitária. Descartes já não respira. Usando a psicopatologia clínica como referência da análise social, os processos sociais e suas expressões linguísticas fazem, mais e mais do homem comum, o psicótico. Não o psicótico reduzido pela psiquiatria biológica a sintomas (delírios e alucinações) mas o psicótico, digamos, integral, o que é intoxicado full time por imagens virtuais autenticando a suposta vida real. Assim, essa Realidade se dissemina por todos os cantos, todos os poros, como imagens descarnadas, ocas, fugidias, anêmicas. Já não é mais o psicótico (a pessoa) que rompeu com a realidade. É a Realidade que rompeu-se, destruiu o eu e chega sem o corpo, a corporalidade, a carne, o afeto, a alma, o desejo, enfim, como sinal dos tempos de uma vida decadente, esvaziada de potência. Oh Spinosa !
P.S. -Texto revisada e republicado.
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