segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Amanhecência

Quero ficar só, 
para respirar a estrela. 
Deixar a noite escorrer a mágoa, 
dissolvê-la em enxurrada. 
Não deixar nada a comprimir o peito. 
Quero a madrugada de tal jeito, 
que a alma possa flanar sem pouso certo 
e sugar o primeiro brilho esperto 
de uma gota. 
Beijar a pétala rota 
pelo mau jeito de um espinho, 
degludir devagarinho 
o mel do espasmo nascente. 
Quero o orgasmo 
do pólen, da semente; 
eu quero o sumo. 
Para recompor a vida, 
pra renascer o afeto, 
pra retomar o rumo. 


Flora Figueiredo

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