PRODUÇÃO DE ANTIPRODUÇÃO
(...)
O Estado, sua polícia e seu exército formam um gigantesco empreendimento de antiprodução, mas no seio da própria produção,
e condicionando-a. Encontramos aqui uma nova determinação do
campo de imanência especificamente capitalista: não somente o
jogo das relações e coeficientes diferenciais dos fluxos descodificados, não apenas a natureza dos limites que o capitalismo reproduz a uma escala sempre maior enquanto limites interiores, mas a
presença da antiprodução na própria produção. O aparelho de
antiprodução já não é uma instância transcendente que se opõe à
produção, que a limite ou a freie; ao contrário, ele se insinua por
toda a máquina produtora, liga-se estreitamente a ela para regrar
sua produtividade e realizar a mais-valia (donde, por exemplo, a
diferença entre a burocracia despótica e a burocracia capitalista).
A efusão do aparelho de antiprodução caracteriza todo o sistema
capitalista; a efusão capitalista é a da antiprodução na produção
em todos os níveis do processo. Por um lado, só ela é capaz de
realizar o fim supremo do capitalismo, que é o de produzir a falta
nos grandes conjuntos, de introduzir a falta onde há sempre excesso, pela absorção que ela opera de recursos superabundantes.
Por outro lado, só ela duplica o capital e o fluxo do conhecimento,
com um capital e um fluxo equivalente de imbecilidade que também operam a absorção ou a realização, e que garantem a integração dos grupos e dos indivíduos ao sistema. Não só a falta no seio
do excessivo, mas também a imbecilidade no conhecimento e na
ciência: veremos, notadamente, como é no nível do Estado e do
exército que se conjugam os setores mais progressivos do conhecimento científico ou tecnológico e os débeis arcaísmos encarregados de exercer funções atuais.
(...)
Gilles Deleuze e Félix Guattari, in O anti-édipo
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