TRECHO DE "O LIVRO INVISÍVEL" DE WILLIAM BURROUGHS
A consciência é continuamente cortada por fatores fortuitos.
Tento tornar isto explícito cortando palavras. Esta é a minha
teoria sobre arte. A arte está alertando o homem sobre si
mesmo, ressaltando os fatos atuais da percepção.
BURROUGHS 1 Mas diga-me, meu caro Burroughs, acaso a
capacidade de ver o que temos à frente é uma forma de
escapar da imagem-prisão que nos rodeia?
BURROUGHS 2 Decididamente, sim. Porém muito pouca gente
tem esta capacidade, e cada vez serão menos, conforme
passe o tempo.
BURROUGHS 1 Por que?
BURROUGHS 2 Por uma razão: a absoluta barreira de imagens
a que estamos submetidos acabará por nos embotar a todos.
Recorde, em comparação, que há cem anos havia poucas
imagens. As pessoas viviam em um cenário mais simples, em
um meio ambiente camponês, tropeçavam em poucas
imagens, e essas poucas eram vistas com bastante clareza.
Porém se alguém é bombardeado, sem descanso, com a
propaganda inscrita nos caminhões ou táxis que passam…
BURROUGHS 1 …com as imagens da televisão e dos jornais…
BURROUGHS 2 …sim, com as imagens da televisão e dos
jornais, esse alguém acaba embotado. Forma-se uma névoa
permanente diante dos olhos e já não se vê nada.
BURROUGHS 1 E o que se deveria ver?
BURROUGHS 2 Que não há nada interposto entre uma pessoa
e a imagem. Um granjeiro vê suas vacas de verdade: vê o que
tem diante de si e o vê bem claro. Não é um problema de
hábito: o problema é que algo se coloque entre alguém e a
imagem, de tal forma que o impeça de vê-la. Não quero dizer
que o granjeiro tenha nenhum tipo de identificação mística
com a vaca, mas sim que sabe quando a vaca não está bem.
Ele sabe tudo o que se refere à vaca, a forma com que a vaca
lhe é útil e como se encaixa em seu meio ambiente.
(...)
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