segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A questão do suicídio

O suicídio é um tema complexo, e daí indicado para uma abordagem transdisciplinar. Num extremo da análise há o pensamento especulativo, abstrato, (“quais os fatores que levam ao suicídio?”) e no outro extremo, o pensamento empírico (“como evitar o suicídio e/ou atender quem quer se matar”?). Nesse texto optamos por trabalhar a segunda linha, ou seja, um problema concreto, clínico, por vezes dramático que diz respeito à urgência/emergência em saúde mental. E por extensão, ao técnico em saúde mental, mesmo que este não trabalhe em saúde mental. Lembramos que o suicídio atravessa todas as áreas e especialidades, desde que a vida é o que está em jogo. Desse modo, é possível enumerar alguns princípios que norteiam a intervenção focal sobre quem tentou se matar. Em primeiro lugar, óbvio, numa tentativa de suicídio não exitosa a avalição incide antes de tudo sobre o organismo visível, mensurável, (dados vitais, etc). Esse é o protocolo médico clássico. Em segundo, a presença do paciente é reconhecida como a quem está ou esteve numa situação-limite, a do autoextermínio. É um reconhecimento que se baseia num não julgamento. Em terceiro, a contextualização e as circunstâncias do ato a partir de informações da anamnese (do próprio ou de terceiros). Onde? Quando? Como? Por que? Em quarto, a escuta do paciente segundo uma atitude expectante não passiva, ao contrário. Significa dizer que ele será acolhido sem restrições. Em quinto, a pesquisa sobre os afetos (sentimento, humor, vontade, etc) no instante da conversa. Isso leva o técnico a sondar se há risco de nova tentativa (imediata ou mediata). Em sexto, a organização cognitiva a dizer se ele está “compreendendo” a situação atual (nível de consciência, do eu, da realidade à volta, da organização da fala, etc). Em sétimo, a observação em torno do paciente onde estariam a família, amigos, colegas, conhecidos a prestarem solidariedade (ou não). Em oitavo, da possibilidade (às vezes difícil) de estabelecer um diagnóstico psiquiátrico e/ou psicológico (sindrômico) baseado na semiologia do ato. Em nono, para intuir a atitude valorativa do suicida em relação a gravidade do seu próprio ato. Um distanciamento crítico a conferir. Em décimo, a preparação junto ao paciente das medidas pós-tentativa como o encaminhamento a outros serviços, entidades ou pessoas, a depender do caso, de acordo com os itens anteriores.

A.M.

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