ESTUDOS SOBRE O SUICÍDIO - III
O tema "suicídio" é complexo. Sim, porque está em jogo não a morte ("a morte não existe") mas a vida. Vale a pena a vida? Como Camus escreveu, no ato suicida está presente a única questão verdadeiramente filosófica : o valor da vida. Saímos do campo especulativo da morte (o que é isso?) para aterrar nas práticas do mundo. Trata-se de um giro na discussão empírica ( como evitar que ele se mate?) em direção aos processos existenciais que o desejo agencia. O que é viver? Sob o foco da mídia, imagens mortuárias povoam o debate sobre o suicídio e as respostas extraem da agenda biomédica o senso comum dos organismos tidos como doentes. Pesadas carcaças diagnósticas fecham a questão: haveria mais suicidas entre os portadores de transtornos mentais? Ora, os transtornos mentais não são causa nem origem nem explicam nada. Eles é que devem ser explicados. A psiquiatria também. Como o pensamento sobre o suicídio costuma estar atolado na moral, na ciência, na religião e nos interesses do estado, rodopiamos todos num ponto cego de análise. Repetindo: a questão é a da vida! Até porque uma séria limitação do método qualitativo jamais será preenchida nas pesquisas. Ou seja, quem fala em nome do suicida exitoso, já que ele não mais está entre nós?
A.M.
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