RELATOS DO ACASO
Nº 9 – Contenção no leito – Atividades com alunos de psicologia num hospital psiquiátrico- Sanatório São Paulo em Salvador. Ao passar por uma das enfermarias, havia um paciente contido mecanicamente no leito (com uma atadura de crepom amarrada aos punhos). Como é um dispositivo comum em hospitais desse tipo, expliquei para os alunos do que se tratava, por que e para que isso existia. A explicação seguiu a lógica da clínica manicomial, ou seja, de que aquele era um recurso extremo para casos de agitação psicomotora, heteroagressividade, apragmatismo, desorientação temporoespacial, entre outros. Ao mesmo tempo acrescentei que a clínica da psicose se expressava no hospital como lugar de vigilância/controle. A contradição implícita (terapêutica versus controle) explicitou-se no comentário súbito de uma aluna. Disse ela: “Mas, professor, esse aqui não é o lugar da loucura, o lugar onde é possível a expressão total da loucura, já que lá fora não é possível?”. Sorri. A fábula do “rei está nu” (H.C. Andresen) nos visitou através da mente ingênua da estudante. Como a de uma criança.
A.M. do livro Trair a psiquiatria
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