domingo, 29 de setembro de 2019

RELATOS DO ACASO

Nº 9 – Contenção no leito – Atividades com alunos de psicologia num hospital psiquiátrico- Sanatório São Paulo em Salvador. Ao passar por uma das enfermarias, havia um paciente  contido mecanicamente no leito (com uma atadura de crepom amarrada aos punhos). Como é um dispositivo comum em hospitais desse tipo, expliquei para os alunos do que se tratava, por que e para que isso existia. A explicação seguiu a lógica da clínica manicomial, ou seja, de que aquele era um recurso extremo para casos de agitação psicomotora, heteroagressividade, apragmatismo, desorientação temporoespacial, entre outros. Ao mesmo tempo acrescentei  que a clínica da psicose se expressava no hospital como lugar de vigilância/controle. A contradição implícita (terapêutica versus controle) explicitou-se no comentário súbito de uma aluna. Disse ela: “Mas, professor, esse  aqui não  é  o lugar  da  loucura, o lugar  onde  é  possível a expressão total da loucura,  já  que  lá fora não é possível?”.  Sorri. A fábula do “rei está nu” (H.C. Andresen) nos visitou através da mente ingênua da estudante. Como a de uma criança.

A.M. do livro Trair a psiquiatria

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