sexta-feira, 20 de setembro de 2019

TRAIR A PSIQUIATRIA

O lugar da diferença na psiquiatria é o do não-lugar, o delírio, condição para um pensar livre. Para a psiquiatria biológica isto soa como, no mínimo, irracional. Num caps, onde a equipe técnica é (ou deveria ser) a referência da clínica, o psiquiatra contribue com a sua farmacoterapia e óbvio, com uma certa visão da psicopatologia. No entanto, hoje a psicopatologia é desprezada como objeto de pesquisa e substituída por alterações de comportamento, o qual seria em essência determinado por alterações cerebrais ( daí o uso de psicofármacos como primeira opção terapêutica). Desse modo, a psiquiatria, além de portadora de um pensar simplista, torna-se um entrave para uma clínica psicossocial, ou seja, a um Centro de Atenção Psicossocial. Isso se operacionaliza com a colaboração de não-psiquiatras. A equipe técnica é psiquiatrizada. Não causa surpresa, ao contrário, o fato do status quo psiquiátrico não ver positivamente o ideário antimanicomial.  Sua hegemonia clínica e institucional é contestada. Num caps, se a impressão inicial for a de um ambulatório de psiquiatria funcionando, estamos dentro de um pseudo-caps.

A.M.

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