ESTUDOS SOBRE O SUICÍDIO - IV
A complexidade do tema "suicídio" conduz a pesquisa para linhas dispostas num rizoma. Trata-se de uma abordagem transdisciplinar. Isso ultrapassa as fronteiras entre os saberes em prol da construção de um conhecimento que os atravessa. Qual? No caso do suicídio, é a questão da vida. Tanto a nível especulativo quando a nível empírico, é a vida e mais precisamente "o que é viver?" o que se expressa como densidade conceitual irrecusável. É o que está em jogo. Ora, entre os focos de atenção para com o tema está, óbvio, o ato em si de alguém se matar. Como foi possível? Como ele conseguiu? O "como" não refere ao método usado, mas mais profundamente a que forças atuaram no momento fatal. É simples constatar que motivos de toda ordem existem para alguém se matar. Quem nunca pensou nisso, nem que por um breve momento? Nas síndromes psiquiátricas a ideação suicida, apesar de comum, nem sempre chega a se consumar como ato. Então, eis a nossa hipótese: mais importantes que os motivos, há linhas de forças destrutivas na organização subjetiva (afetiva, portanto) que triunfam. Como isso se agencia? Os afetos (um "gosto em viver") são derrotados por essa vivência interna (um "não querer viver") mas produzida de fora, isto é, pela sociedade. O "não querer viver" é social. Não no sentido de que "a sociedade é culpada" mas no sentido em que somos seres sociais e é isso que nos faz humanos. Não existiria, pois, o indivíduo e a sociedade.O indivíduo já é a sociedade-em-nós. O suicídio é um sintoma social do "não querer viver". Ou no mínimo, que está muito difícil viver.Esta é a base para pensá-lo sem apelar para uma reflexão mortuária em seus disfarces moralistas (a religião), técnicos (a medicina), políticos (o estado) e publicitários (a mídia). "Só existe o desejo e o social e nada mais".
A.M.
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