O TEMPO NÃO VOLTA
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Dessa perspectiva, o trabalho com o paciente é essencialmente o de resgatar a capacidade de criar a si mesmo e ao mundo, o qual na verdade é ele próprio. Promover condições de movimento, não só como deslocamento espacial, mas como devir. Esse é o campo da subjetividade que chamamos de processo. A psiquiatria desconhece o conceito de devir porque opera num universo de totalidades identitárias, o-portador-de-transtorno-mental, a doença mental, a esquizofrenia, o sintoma, a cura, etc - que é o da representação. Desse modo, não há chance de se conceber o devir como instância vital, carnal. A psicopatologia desaparece e no seu lugar surgem unidades reificadas da mente que respondem aos estímulos acionados. No entanto, o devir é uma conexão entre elementos heterogêneos. O que está em jogo é o movimento, a mudança e sobretudo, a multiplicidade. Numa clínica do Encontro isso expressa intensidades criativas. Os devires entram em cena à medida em que a subjetividade “egóica” se desfaz. Daí, o cérebro, a consciência e o eu passam a fazer parte dos devires e não o contrário. O que vem primeiro é o Tempo, a passagem. Em que isso interessa à psicopatologia, e por extensão, à clínica dos transtornos mentais?
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A.M.
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