domingo, 16 de outubro de 2011

AFETOS ESQUIZOFRÊNICOS

As crenças  são em  grande  parte  instiladas pelas formações  sociais que  atravessam  os modos  de subjetivação. Ao  escutar um  paciente, busque  saber algo  de  suas crenças, principalmente as primárias,  as  elementares.  A  subjetividade “necessita”   de   crenças. Poderá   até  mesmo  ser  a crença  na  psiquiatria como  remédio para os problemas mentais. Cai-se,  então,  na  redundância. Problemas sempre existem. Contudo ao  falar  (ou  pensar) “mentais”  há  uma coisificação do   sem-forma, uma   substancialização  da mente.  E   usa-se a  “coisa=mente”  como munição  de poder    para   assegurar um saber sobre  o  outro,  o  paciente. Na  lógica  do  Encontro não  buscamos  um saber,  mas  um  não-saber,  já  que  a loucura é  a “essência” do  não-saber, fundo sem fundo  da condição  humana. Então, a pesquisa  das  crenças  segue o  itinerário   do  acaso,  do  indeterminado e do  desconhecido.  É  uma manobra  difícil, já  que  destrói  códigos   inscritos  no construto médico  do louco. Louco=paciente da mesma forma que tuberculoso=paciente?  Claro  que  não.  Então, no âmbito  biomédico  não  há  chance do  paciente  ser escutado. Este modelo não está  errado.  Ao  contrário,   foi concebido para  isso,  feito  para isso:  trata-se  de um monólogo recitado  na presença  do paciente.  Uma distância se  instaura  como   lugar   fixo   de  quem manda e  de   quem  é mandado.  Para  escutar  o  paciente   o que  então  será  preciso? Ora,  a escuta  médica      é “filha”  do olhar    técnico,    imobilizador.  Propomos a  antiescuta como  uma  atitude  de  escuta para  além da fala padronizada;  “estou   mal”; isto  se    dá    como   expressão  de  um  corpo-produção,  sobretudo um  corpo  invisível  que  é preciso achar. Novas  semiologias  serão  possíveis.

Antonio Moura

Um comentário:

  1. O delírio está aí no mundo, completamente inserido na realidade e até mesmo na considerada mais adaptável.

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