AFETOS ESQUIZOFRÊNICOS
As crenças são em grande parte instiladas pelas formações sociais que atravessam os modos de subjetivação. Ao escutar um paciente, busque saber algo de suas crenças, principalmente as primárias, as elementares. A subjetividade “necessita” de crenças. Poderá até mesmo ser a crença na psiquiatria como remédio para os problemas mentais. Cai-se, então, na redundância. Problemas sempre existem. Contudo ao falar (ou pensar) “mentais” há uma coisificação do sem-forma, uma substancialização da mente. E usa-se a “coisa=mente” como munição de poder para assegurar um saber sobre o outro, o paciente. Na lógica do Encontro não buscamos um saber, mas um não-saber, já que a loucura é a “essência” do não-saber, fundo sem fundo da condição humana. Então, a pesquisa das crenças segue o itinerário do acaso, do indeterminado e do desconhecido. É uma manobra difícil, já que destrói códigos inscritos no construto médico do louco. Louco=paciente da mesma forma que tuberculoso=paciente? Claro que não. Então, no âmbito biomédico não há chance do paciente ser escutado. Este modelo não está errado. Ao contrário, foi concebido para isso, feito para isso: trata-se de um monólogo recitado na presença do paciente. Uma distância se instaura como lugar fixo de quem manda e de quem é mandado. Para escutar o paciente o que então será preciso? Ora, a escuta médica é “filha” do olhar técnico, imobilizador. Propomos a antiescuta como uma atitude de escuta para além da fala padronizada; “estou mal”; isto se dá como expressão de um corpo-produção, sobretudo um corpo invisível que é preciso achar. Novas semiologias serão possíveis.
Antonio Moura
O delírio está aí no mundo, completamente inserido na realidade e até mesmo na considerada mais adaptável.
ResponderExcluir