sábado, 29 de outubro de 2011

 CRÍTICA


A crítica  acabou. Ela resvala em superfícies  duras e infensas às  ondas, mesmo fortes. Uma volúpia pela imagem descarnada assalta  espíritos simplórios.  Veja. Ouvi do estudante um comentário   choroso. Falava da  depressão  anoréxica.  Tratava-se  de um famélico. O pensamento parecia  uma  coisa  à  toa que aterrissava   plácido nas maçãs  do rosto. Uma origem: a crítica  com ares de simpatia misturada à burrice dos espaços em branco. O ideal asséptico a todo furor. Nuvens de arrebentação. Os devires passam rente  às lixeiras no subsolo das mentes por demais  ocupadas consigo mesmas. Não concorde  com tudo.Finja  que  sim. Finja que  pensa. Acione dois  ou três dendritos e avise a certos neurônios que você tem algo a  dizer. Não diga. Assuma o negativismo dos psicóticos incuráveis. Beije a mão do general e do papa travestidos de médicos. Eles compreenderão a sua  humildade. A crítica  direta é pura  simulação. Não ofende, não corta, não faz explodir. Contenha-se em sua inferioridade geneticamente  instituída. Repita  as frases, repita ao ponto de uma halitose civilizada se misturar ao formol dos cadáveres encaixotados em pets. Enfim, criticar é preciso  desde que não se critique. Ou que  a  crítica  seja um signo do horror político mostrado  como ciência e  salvação. Depois  de tudo, arrisque um palpite, faça uma  fezinha na loteria acadêmica. A mesma que abastece  os  exércitos pregando a paz  no oriente  médio. Experimente pensar.

Antonio Moura

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