quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O MÉTODO DA DIFERENÇA

Um   exame  do  humor pode explicitar o roteiro da diferença.  Os afetos  precedem  o  humor. Este   é  um  tipo  de afeto    resultante de  forças múltiplas :  bioquímicas, psíquicas,  sociais, coletivas, etc.  O  pesquisador (obtuso)  da mente     prioriza  a primeira  força  em nome do  ideal  asséptico  da ciência positivista.  Tudo  é  cérebro como origem.   Trata-se de  um reducionismo  fabricado em nome  da  razão  médica.  Ao  inverso,  buscamos detectar  afetos sutis que só   se expressam   (grosseiramente)  como  depressão, e  daí   se  inscrevem num rebaixamento da vitalidade. Isso pode  ser a  depressão como  “doença”  ou  tão apenas uma  síndrome ou  uma  reação depressiva  às circunstâncias sócio-metafísicas. De todo  modo, o encontro com  os  afetos  busca a intensidade dos  mesmos  a partir das  condições  subjetivas do  paciente. Qualquer um pode  deprimir à  medida em  que    vivencia   a cultura  da culpa inscrita  na  carne. Somos todos  cristãos e deprimidos.  O paciente traz  o  humor como  um dado que muitas  vezes lhe  foi  inculcado: “sou  bipolar”.  Trata-se  de  um  processo de  subjetivação  psiquiátrica que  se impõe como verdade  diagnóstica.  Devires são   cortados .   O    humor   hipotímico    “evolui” para     um grau de  vitalidade compatível  com  a  doença psiquiátrica:  ausência  da   vontade  de viver.    Como  recusar  o  grito desesperado do paciente? Claro que  há outras  depressões,  talvez  não  tão graves,   mas  necessitadas  de atenção e  acolhimento. No ato  do  encontro    é  possível    diferenciá-las  em função da  demanda por  ajuda. O  humor  não  é como  a “glicose”, portanto  a sua medição        não  é  a  “glicemia”. O humor  é  o  desejo em uma  de  suas  expressões  traduzidas num   contexto. 

Antonio Moura - extraído do livro Trair a psiquiatria, a ser lançado em 25/10/2011, em Vitória da Conquista

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