DELIRAR
Antonio Moura
Ao desconfiar que alguém delira, não julgue. Pense primeiro “ o que estará sentindo o suposto delirante?”. Quem delira pode não estar delirando, ou seja, pode estar apenas pensando em voz alta. Afinal, como seres do pensamento, deliramos. Uma barreira colocada entre nós e o dito mundo real impede que o delírio se torne um problema. Sim, torna-se um problema quando a ordem “natural” das coisas é rompida a nível da conduta. Para o bom senso isso é insuportável, ou quase insuportável. Parece claro. Há uma ordem racional do mundo que instituiu e institui valores, normas e códigos. Isso em toda parte. Uma necessidade de ordem e bom comportamento parece fazer as coisas andarem. O binômio ordem/desordem vem daí, alimenta-se de possíveis desvios que o confirmam. A todo custo, a ordem tem que ser mantida, começando pela família. Nesse estado de coisas o delírio é uma linha de vida não classificável. Não é a de um criminoso, nem a de uma criança ou de qualquer segmento social diferente dos normais. Eles não deliram. Então o delírio chega trazendo a marca do incompreensível e do insólito. Qual a sua natureza?
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
Nenhum comentário:
Postar um comentário