sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CONCEITO DE ENCONTRO

A concepção  transferencial   da  psicanálise, bem  como a  da  consciência  intencional da  fenomenologia  (adotada por  várias  linhas  psicoterápicas), não   dão conta  do encontro  como  um  “para  além”. Mesmo   que    teóricamente  falem  de  um bom encontro,   essas  concepções    sustentam  outra  coisa, atadas que  estão  à dimensão egóica, mental, personalística  do  paciente. Isso  produz   um território   afetivo  que   justifica  e  referenda    uma Forma. Cria-se  um circuito  de  realimentação  incessante para que  o terapeuta  cada  vez  mais   acredite  no objeto e  nos objetivos  do seu  trabalho. Isto  sem falar  na demanda  do  Mercado :  mais  e mais  psicoterapeutas  para   tamponar  a angústia dos  tempos  que correm. Maus encontros  que  devem se tornar  bons  encontros,  desde  que  obedeçam  às  regras do  contrato “ fluxo de  sintomas—fluxo  de  palavras---  fluxo de  dinheiro e prestígio”. É então   impossível  deixar  de  situar   a possibilidade  do  encontro  no  âmbito das  relações  capitalistas  de  produção, não    da vida  material, mas  da  vida  subjetiva.O mundo  em  que  vivemos  é  o mundo  do  capital em todas as   modalidades  de  fetichização  da mercadoria. O eu é  uma  mercadoria  muito  útil para   aquisição  de  novas  mercadorias  num circuito  automatizado  de  trocas: o  homem  médio consumidor  de   ordens  implícitas (...)

Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria

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