ADEUS, WATSON
espatifei o copo na parede, atravessei a sala e agarrei aquela mulher. me sentia magoado. era linda. fomos pra cama. me lembro de uma chuvinha que entrava pela janela. deixamos que caísse em cima da gente. estava ótimo. tão bom, que repetimos a dose e quando pegamos no sono dormimos com a cara virada pra janela. ficamos completamente encharcados e de manhã os lençóis estavam úmidos e levantamos da cama espirrando e morrendo de rir: "puta merda! puta merda!" foi engraçado e o coitado do Watson caído num canto qualquer, com a cara partida e inchada, enfrentando a Verdade Eterna, as lutas de 6 assaltos, as de 4, depois voltando pra fábrica comigo, matando 8 ou 10 horas por dia a troco de uma mixaria de salário, sem chegar a nenhum resultado, esperando a Morte, tendo que desistir da inteligência, perdendo o ânimo aos poucos, indo tudo pras cucuias, e nós esperando, "puta merda" foi engraçado. e ela disse: "tu tá roxo, tudo ficou todo roxo! minha nossa, te olha no espelho!" , e eu morrendo de frio, ali parado na frente do espelho, e estava mesmo todo ROXO! ridículo! uma caveira esquelética de merda! comecei a rir, a dar tanta risada que acabei caindo no tapete e ela se atirou em cima de mim. e aí nós rimos, rimos, mas rimos tanto, tanto, que, puta merda, até pensei que tínhamos enlouquecido. e então tive que me levantar, me vestir, pentear o cabelo, escovar os dentes, nauseado demais pra comer; senti ânsias de vômito quando escovei os dentes, saí pra rua e caminhei na direção da fábrica de luminárias; só o sol se sentia bem, mas a gente tinha que se conformar com o que tinha.
C. Bukowski - do livro Fabulário geral do delírio cotidiano
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